É um documento notável sobre os problemas de Portugal e dos portugueses. É quase um programa de governo, extenso, minucioso e certeiro, de uma visão extraordinária, com muita atualidade, em que o infante das Sete Partidas dá conselhos ao futuro rei sobre tudo.
Há
600 anos!
Deixo-vos algumas frases. É tão difícil de escolher, mas aqui têm um apanhado:
IGREJA
“Há excesso de prelados com escassa preparação, e em quem a vocação é ausente.
Clérigos sem cultura, em quem floresce a preguiça e a gula(...).
Quanto aos bispos, entendo que é nefasto o hábito de serem nomeados sem que se
acautele que são homens livres de escândalos.”
ESTUDOS SUPERIORES
“Saliento a importância da educação de todos os que dão mostras de aptidão e
inteligência, e não apenas dos filhos dos privilegiados(...) Ricos e pobres
devem conviver durante a vida de estudos, em igualdade de tratamento. Defendo a
criação de dotações para os estudantes sem
recursos.”
IMPOSTOS E POVOAMENTO
“A força reside, em parte, na população. É preciso evitar o despovoamento dos
campos e diminuir os tributos que pesam sobre o povo.”
JUSTIÇA.
"A justiça parece só existir em Portugal na cabeça do rei e do seu herdeiro;
e dá ideia de que lá não sai, porque, se assim não fosse, aqueles que têm por
encargo administrá-la comportar-se-iam mais honestamente. A justiça deve dar a
cada um aquilo que lhe é devido e deve dar-lho sem delongas(...). O grande mal
está na lentidão da justiça”
DEFEITOS DOS PORTUGUESES
"Dos muitos vícios que encontro no nosso povo, falar-vos-ei do gosto pela
ostentação vazia, que leva a que todos queiram viver na corte, enjeitando as
nobres profissões de seus pais, para se verem afidalgados, entregues ao ócio e
ao dinheiro fácil. Enche-se de ociosos a corte e os lugares que deveriam administrar
o reino. Vejo nesta situação uma das causas do atraso de Portugal, onde não se cumpre
a lei nem se resolvem os entraves.