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terça-feira, 2 de maio de 2023

Bom, Sr. Presidente, de que é que está à espera?

 Sr. Presidente, de que é que está à espera? Tenho tentado manter-me afastado de tudo o que diz respeito à política do país. Há já algum tempo que cheguei à triste conclusão que, por muito que se chame a atenção para os erros, abusos e perigos desta ou daquela governação, há sempre uma passividade, uma aceitação da situação como se a realidade não dissesse respeito a todos, como se a a governação estivesse acima de todos e não fosse para gerir a coisa pública  que pertence a todos, sustentada por todos, com impostos que pesam cada vez mais e nunca pesaram tanto, a todos.

Atualmente, já nem participo nas discussões mais ou menos diletantes sobre a política portuguesa. Assisto e rio-me das anedotas que se atropelam umas às outras com personagens que Costa escolhe e em quem confia, confia, confia até mesmo quando já a própria confiança desconfia. Não lembraria ao Diabo convidar João Galamba para o Governo porque se o Diabo sabe muito é porque é velho, Galamba tem todo um passado que não é de todo recomendável.

Eu sei que é como agulha em palheiro encontrar alguém com capacidade que queira atualmente ir para ministro, mas há um mínimo. É certo que a média dos ocupantes das pastas está longe do sofrível, cada vez acho mais estranha, por exemplo, a escolha para ministra da Presidência uma pessoa que para além de nunca ter feito nada na vida profissionalmente, não se lhe conhece uma ideia e nem sequer consegue exprimir capazmente ideias de outrosEu sei que é já tudo uma anedota, mas Galamba nem sequer isso é, nem sequer faz rir, é de vómito. O SIS? Informações ultra-secretas? As porcarias que fazem com a TAP? O plano de reestruturação da empresa que há muito devia ser do conhecimento dos portugueses já que são eles que sustentam a empresa e os caprichos de quem tem a tutela?
Bom, Sr. Presidente, de que é que está à espera?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

A famosa carta de Bruges, escrita pelo infante D. Pedro ao seu irmão D. Duarte, em 1426, devia ser dada nas escolas.

 

É um documento notável sobre os problemas de Portugal e dos portugueses. É quase um programa de governo, extenso, minucioso e certeiro, de uma visão extraordinária, com muita atualidade, em que o infante das Sete Partidas dá conselhos ao futuro rei sobre tudo.

Há 600 anos!
Deixo-vos algumas frases. É tão difícil de escolher, mas aqui têm um apanhado:


IGREJA


“Há excesso de prelados com escassa preparação, e em quem a vocação é ausente. Clérigos sem cultura, em quem floresce a preguiça e a gula(...).

Quanto aos bispos, entendo que é nefasto o hábito de serem nomeados sem que se acautele que são homens livres de escândalos.”

ESTUDOS SUPERIORES

“Saliento a importância da educação de todos os que dão mostras de aptidão e inteligência, e não apenas dos filhos dos privilegiados(...) Ricos e pobres devem conviver durante a vida de estudos, em igualdade de tratamento. Defendo a criação de dotações para os estudantes sem
recursos.”

IMPOSTOS E  POVOAMENTO

“A força reside, em parte, na população. É preciso evitar o despovoamento dos campos e diminuir os tributos que pesam sobre o povo.”


JUSTIÇA.


"A justiça parece só existir em Portugal na cabeça do rei e do seu herdeiro; e dá ideia de que lá não sai, porque, se assim não fosse, aqueles que têm por encargo administrá-la comportar-se-iam mais honestamente. A justiça deve dar a cada um aquilo que lhe é devido e deve dar-lho sem delongas(...). O grande mal está na lentidão da justiça”

DEFEITOS DOS  PORTUGUESES

"Dos muitos vícios que encontro no nosso povo, falar-vos-ei do gosto pela ostentação vazia, que leva a que todos queiram viver na corte, enjeitando as nobres profissões de seus pais, para se verem afidalgados, entregues ao ócio e ao dinheiro fácil. Enche-se de ociosos a corte e os lugares que deveriam administrar o reino. Vejo nesta situação uma das causas do atraso de Portugal, onde não se cumpre a lei nem se resolvem os entraves.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A IMPUNIDADE DO SOCIALISMO EM PORTUGAL

 Paulo Pedroso sempre foi um dos políticos de maior destaque do Partido Socialista! E foi também um dos principais arguidos do processo Casa Pia! Andei atrás do senhor durante vários anos e em todas as fases do processo. Foi referido por vários miúdos durante a investigação criminal, como o foram outros nomes pesados da política e do poder socialista, embora com os tempos já prescritos! Foi acusado e esteve preso preventivamente. Mas sabíamos que ia acabar por sair do caso por atitude compreensiva do regime socialista (José Sócrates, 1.° Ministro, Jorge Sampaio, Presidente da República)! Vá-se lá saber porquê, teve direito a uma decisão de não pronúncia na fase da instrução, exatamente com base nos mesmos argumentos que levaram os demais arguidos a julgamento!

O recurso feito para o Tribunal da Relação de Lisboa da decisão de não pronúncia foi distribuído a um juiz que nunca deveria, nem poderia, ter tido qualquer intervenção nessa altura; por ter sido o mesmo que ordenou a sua libertação da prisão preventiva em fase processual anterior. Ainda assim, o processo foi-lhe distribuído mas foi afastado do mesmo . Só que voltou a ir parar-lhe à mão, como a Dra Catalina Pestana me disse que iria acontecer (uma mulher inteligente, combativa e visionária ao seu tempo!), desta vez para decidir, não como juiz responsável, mas com o pretexto de estar de turno de férias de agosto, em substituição do juiz titular, e de se tratar de um processo “urgente”! A decisão já não podia mais ser impugnada!!

Esta história nunca foi contada antes. Talvez por ser demasiado bizarra! Agora enerva-me ouvir dizer que Paulo Pedroso foi absolvido no processo Casa Pia!!

Os restantes arguidos foram condenados, é certo! E o processo já lá vai! Além disso, não tenho nada de pessoal contra o senhor! Mas não deixa de ser notável que 20 anos depois seja convidado para comentar casos de pedofilia, como aconteceu esta semana na televisão pública portuguesa!!!

Mas já nada me surpreende nesta vida!!! Em Portugal a corrupção dos Politicos está dizimada por todo o espectro.... É levá-los a todos para o Campo Pequeno !!!! SÃO TRAIDORES DE PORTUGAL !!!!

domingo, 29 de janeiro de 2023

"Um dia de dados", uma crónica do jornalista Ricardo Garcia

 

Acabo de acordar, são 7h15. Estou pronto para uma jornada de zelo pelos meus dados pessoais. Quem me despertou foi o telemóvel. Neste contacto matinal com a tecnologia, sinto-me imediatamente vigiado. O capitalismo selvagem é tudo menos tonto, e a aplicação que me acorda não desperdiçará a colossal oportunidade de arquivar as horas a que me levanto.

Tomo um banho, o sabonete está quase no fim. Penso no dia em que um chip não haverá de remediar tais situações, encomendando automaticamente o produto em falta. Então, até as nossas abluções matinais entregaremos ao conhecimento público – com maior ou menor detalhe, conforme a precisão do localizador do chip.

Minha mulher está a bordo de um avião, a caminho de outro hemisfério. Recorro novamente ao smartphone, que me informa a latitude e longitude em que ela está, a velocidade da aeronave, seu rumo e altitude. A app me hipnotiza, não a consigo largar, até que ouço mentalmente uma ordem conjugal: “Para de bisbilhotar e põe-te a mexer!”

Meto a cafeteira no lume, são 8:15. Quando estiver em pleno a Internet das Coisas – um estado de dependência perante as máquinas com o qual alguém irá ganhar dinheiro –, um computador tratará de pôr o café em marcha, de ligar a máquina da loiça, de recolher os estores, de apagar as luzes, de trancar as portas, de abrir o carro. E tudo isso será comunicado a alguém, algures, capaz de “melhor a nossa experiência”.

Agora trato dos pratos. Abro a torneira quente e um magnífico contador digital avisa-me que estou a consumir energia. Examino-o: neste dia, já gastei 1,2 quilowatts-hora de eletricidade de 15,54 quilowatts-hora de gás. Não me diz absolutamente nada, mas ao fornecedor de energia sim. Com um ano de contador inteligente, a empresa sabe quanto tempo passo no banho, a que horas saio ou chego à casa, quando meto a roupa para lavar, se ligo ou não o aquecimento.

São 9:00 e, já na minha secretária, abro uma carta que chegara no dia anterior. É de uma universidade onde dei uma única aula. Pagaram-me quase o preço de uma bifana e ficaram com minha ficha completa: nome, morada, data de nascimento, documento de identificação, número de segurança social, foto tipo passe.

A manhã prossegue em intermináveis telefonemas e mensagens. Utilizo todos os modos gratuitos para me comunicar com o mundo: Skype, WhatsApp, Facetime, iMessage, Facebook, Twitter, Linkedin. Garantem-me todos, a pés juntos, que é tudo seguro, que o que eu disser ficará entre mim e meu interlocutor. Desculpem, mas não acredito.

Às 10:30, já estou plenamente fundido com o computador, somos um organismo só. Constato que me esqueci de fazer um backup do meu trabalho do dia anterior. A aplicação que uso para tal avisa que está desatualizada. Ao contrário dos humanos, a tecnologia exibe essa virtude: não se importa de anunciar que já passou do prazo.

Procedo à instalação da nova versão e penetro num território obscuro, onde prospera a congénita ineficácia das mensagens de alerta. A primeira que surge no ecrã pergunta-me: “Autoriza que este ficheiro faça alterações no seu computador?”. Não tenho escolha, preciso daquela aplicação. Sinto-me como um enfermo agonizante à entrada do bloco operatório, e um funcionário hospitalar com uma caneta não mão a perguntar-me: “Autoriza que o médico faça alterações no seu abdómen?”

Segue-se um momento literário: o contrato de licença. Sou logo avisado de que devo ler tudo, do princípio ao fim. Mas o índice é de uma impenetrabilidade marmórea: A) GNU General Public License; B) cURL License; C) libshh2 License; D) OpenSSL and SSLeay Licence. Passo direto ao botão “ok” e aceito tudo de olhos fechados. Não faço a menor ideia do que estou a consentir.

São 13:00 e acaba de ser divulgado um relatório internacional de que estava à espera. Tento descarregá-lo. É preciso antes fazer um registo. Pedem-me o nome, endereço de e-mail, dados profissionais. Crio uma palavra-passe ao calhas, da qual já não me lembrarei amanhã. Sei, no entanto, que a senha estará lá, algures nos interstícios da Internet, pronta a ser pirateada.

Almoço à frente do computador e aproveito para ver meu correio eletrónico. Está inundado de pedidos de consentimento explícito. O quê? Sites de encontros? Não, é o novo regulamento europeu sobre a proteção de dados, que obriga as empresas a nos pedirem autorização para fazer o que sempre fizeram sem nos pedir autorização: recolher, armazenar e processar fragmentos das nossas vidas privadas na expectativa de os monetizar.

Examino alguns pedidos, resolvo investigar o de alguém que não me conhece mas me trata por tu: Mark Zuckerberg. No labirinto de explicações pelo qual sou conduzido, fico a saber, por exemplo, que o Facebook recolhe, junto ao que chama de “parceiros”, informações sobre minhas atividades online e offline, como “comprar um capacete numa loja de bicicletas”. Imagino-me na loja, a tentar exercer o direito à minha privacidade cefálica: “Desculpe, meu amigo, mas está proibido de dizer ao Zuckerberg que comprei um capacete viking com tranças e um bigode do Asterix”.

Já são quase três da tarde e não faço outra coisa senão consentir, aceitar, autorizar já nem sei o quê. Perco a paciência com a clássica mensagem “este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência”, carrego automaticamente em sim a tudo. A nova lei de Bruxelas não conta, por certo, com o efeito da banalidade.

Preciso enviar um e-mail importante, são 16:15. Começo a escrever o endereço do recipiente, aparecem vários contactos com nomes semelhantes, pessoas com quem um dia já me comuniquei. Por engano, encaminho a mensagem a quem não devia. Em desespero, envio o clássico e-mail corretivo, pedindo para que a mensagem anterior seja desconsiderada – uma tentativa patética, que mais não faz do que aguçar a coscuvilhice alheia.

Meu trabalho complica-se. Tenho uma série de documentos em holandês para ler, recorro a um tradutor automático. Espantosa aplicação, mas vejo que tem um “R” – sim, sou eu mesmo – lá num canto. Afinal, está conectada à minha conta de e-mail. E a minha conta de e-mail à minha cloud. E a minha cloud aos meus documentos. E os meus documentos à minha existência.

Começo a ficar paranoico. O relógio bate seis da tarde, uma notificação surge no computador e em dois telefones ao mesmo tempo: no dia seguinte, a esta hora, tenho uma consulta. Quantas pessoas mais não saberão disso? Já denoto a sintomatologia dos espiados, uma certa claustrofobia digital. Preciso sair, afastar-me da net, apanhar ar. Vou ao supermercado, sou recebido por uma câmara de vigilância bem à entrada. “Tem cartão de cliente?”, perguntam-me na caixa. Sim, está aqui, mas me arrependo de o dar. Remotamente, computadores analisam minha conduta comercial e concluem que desta vez não levei dois pacotes de sumo de laranja.

Volto para casa, o computador adormeceu e não quer acordar. Provido de vontade própria, resolve proceder a uma atualização. Demora uma eternidade, dez minutos depois ainda está a cinco por cento, sabe-se lá o que estarão a fazer na máquina. No final, sou requerido a autorizar tudo e mais alguma coisa: que eu seja localizado, que minha voz seja reconhecida, que minha câmara seja utilizada, que os dados da minha conta, meu histórico de navegação, meus contactos, meu calendário, minhas mensagens, minhas fotos, meus vídeos, que tudo seja partilhado.

O dia está a chegar ao fim, ainda tenho muito trabalho à frente. Hora ideal para me chatearem. Toca o telefone. O número é do Japão, mas estou em Londres. “Boa noite, temos a informação de que esteve envolvido num acidente rodoviário. Correto?”. Não, incorreto, deixem-me em paz. O correio eletrónico apita. É uma mensagem da Itália: Si prega di visitare il link di mantutenzione qui sotto… Vejo a palavra link e apago imediatamente.

Consulto um site de informação sobre cibersegurança e, a meio da leitura, surge um aviso a identificar meu IP e onde estou. “Se nós conseguimos saber isto, os outros sites por onde andas também conseguem”, alerta-me a mensagem, antes de oferecer um serviço qualquer.

Dói-me a cabeça e acredito, já em delírio, que tenho um vírus informático no cérebro. Mastigo qualquer coisa e passo a vista nos jornais na Internet. Passo mal dado, pois sei que estão a registar as notícias que consulto.

O dia não está a correr bem, vou encerrar a loja por hoje. Abro um jogo de paciência, para espairecer. Há muitos anos que não o faço, mas está tudo lá: quantas vezes joguei, quantas vitórias, qual o tempo médio. Quero que me esqueçam, mas não encontro maneira de apagar aquele rasto. Em vez disso, o jogo espeta-me com publicidade. Imagino que seja direcionada às minhas necessidades, ao que julgam que preciso, com base em dados pessoais que me terão usurpado. Para meu terror, o anúncio é de uma agência funerária.

É demais. Maldita a hora em que me dispus a monitorizar quem anda a recolher minha vida pessoal. Se bem que, depois de tudo o que escrevi, meu dia de hoje está todo aqui. Tanta preocupação, e afinal sou eu próprio a dar a ficha toda. Dá próxima, é melhor ficar calado.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor

A privacidade e a segurança “online”estiveram em debate no Fronteiras XXI no dia 25 de Julho na RTP3

Autor

Ricardo Garcia

Jornalista

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

As portas giratórias da “máquina” socialista

 

As portas giratórias da “máquina” socialista

História de Joana Morais Fonseca 

A sucessão de casos e das subsequentes demissões forçaram o primeiro-ministro a fazer “mexidas” sucessivas no Executivo. No espaço de dez meses, o XXIII Governo Constitucional – o terceiro liderado por António Costa, mas agora com maioria absoluta – conta já com mais de uma “mão cheia” de demissões, que já obrigaram a quatro remodelações (e está na calha mais uma para dar posse a quem vier a ocupar a secretaria de Estado da Agricultura). Apesar das alterações, o chefe de Governo tem escolhido vários membros ligados à “máquina” socialista, opção que tem suscitado algumas críticas, nomeadamente por parte da oposição.

Mas, afinal, qual o percurso dos governantes e ex-governantes que já passaram por este Executivo?

Desde cedo que António Costa está ligado à política, tendo-se filiado na Juventude Socialista (JS) com 14 anos. Na sua carreira política, conta com um vasto percurso autárquico, bem como governativo. Foi candidato à Câmara de Loures pelo PS em 1993 e presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre 2013 e 2015. Além disso, foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, posteriormente, ministro dessa mesma tutela (até outubro de 1999) e ministro da Justiça nos governos de Guterres. Foi ainda ministro de Estado e da Administração Interna no primeiro governo de Sócrates, é secretário-geral do PS desde finais de 2014 e este já é o terceiro Executivo sob a sua liderança. Perante a iminência de um passar de pasta na liderança do Largo do Rato, Costa tem procurado manter junto a si as fações dos potenciais candidatos à liderança do PS.

Sob a sua chancela, António Costa conta com três secretários de Estado. António Mendonça Mendes, que era até então secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais e que foi “promovido” a secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, na sequência da saída de Miguel Alves. Licenciado em direito, Mendonça Mendes, é irmão da ministra Ana Catarina Mendes e também considerado um homem do aparelho socialista, tendo passado pela JS. Entre 1999 e 2002 foi assessor de Diogo Lacerda Machado (que era à época secretário de Estado da Justiça e que ficou conhecido também por ser o “melhor amigo” de Costa). Desempenhou também a função de chefe de gabinete da secretária de Estado dos Transportes entre 2005 e 2008, liderada por Ana Paula Vitorino, e 2009 e 2011, foi chefe de gabinete de Ana Jorge, ministra da Saúde no segundo Governo de Sócrates.

Mendonça Mendes veio, deste modo, substituir Miguel Alves, que se demitiu por ser acusado do crime de prevaricação pelo Ministério Público no âmbito de um processo que nasceu da Operação Teia. Miguel Alves foi adjunto de António Costa quando este era presidente da CML (entre agosto de 2007 e outubro de 2009) e também enquanto este era ministro de Estado e da Administração Interna (entre janeiro de 2006 e maio de 2007). Era presidente da Câmara Municipal de Caminha desde 2013 até ser convidado para adjunto de Costa e foi também presidente da Federação do PS em Viana do Castelo, cujo cargo também renunciou na sequência da investigação do MP.

Por sua vez, Tiago Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, começou a carreira como advogado na PLMJ, mas rapidamente ingressou pela carreira política. Entre março de 2005 e 2009, foi adjunto do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro José Sócrates, tendo posteriormente e até junho de 2011 sido “promovido” a chefe de gabinete. Entre 2016 e 2017, foi assistente parlamentar acreditado no Parlamento Europeu, tendo depois regressado ao Governo: no primeiro Governo de Costa foi secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e no segundo Governo foi secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro.

E do gabinete do primeiro-ministro para o Ministério da Presidência, Mariana Vieira da Silva começou como assessora da então ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, no primeiro Governo de José Sócrates (entre 2005 e 2009), passando depois para adjunta do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, função que desempenhou em 2011. Além disso, a atual ministra de Estado e da Presidência e apontada como uma putativa candidata à liderança do PS foi ainda secretária de Estado Adjunta do primeiro Governo liderado por António Costa, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2019.

No atual Governo, a filha do antigo ministro da Segurança Social tem sob a sua tutela três secretários de Estado, dois dos quais bastante ligados ao partido. André Moz Caldas, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, foi presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, entre 2013 e 2018 (sendo que entre 2015 e 2018 ocupou o cargo em regime de não permanência), pelo PS, e entre 2015 e 2019 foi também chefe de gabinete de Mário Centeno, à época ministro das Finanças.

 Inês Ramires, secretária de Estado da Administração Pública, iniciou-se na máquina partidária do PS como consultora do Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros entre novembro de 2006 e agosto de 2007, passando nesse mês e até junho de 2008 para adjunta e assessora do gabinete do secretário de Estado da Administração Pública até junho de 2011, isto é, nos dois governos de José Sócrates. Posteriormente, entre novembro de 2015 e outubro de 2019, foi chefe do gabinete do ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, já no primeiro Governo de António Costa. No anterior governo foi ainda secretária de Estado da Educação, tal como revela na sua página de LinkedIn. Com a tomada de posse do novo Executivo, a 30 de março de 2022, Inês Ramires transitou para secretária de Estado da Administração Pública.

No Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), João Gomes Cravinho iniciou-se nas lides políticas como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, nos XVII e XVIII Governos Constitucionais, entre março de 2005 e junho de 2011. O filho do histórico socialista Joõa Cravinho, fez uma pausa nas funções executivas para ser embaixador da União Europeia no Brasil e na Índia. Contudo, regressou a Lisboa em outubro 2018 para chefiar o Ministério da Defesa, sendo que transitou posteriormente para o MNE no atual Executivo.

A par com o primeiro-ministro e com a ministra da Presidência, o diplomata e académico tem sob a sua tutela três secretarias de Estado, sendo que também aqui o percurso dos secretários de Estado está ligado ao PS. Licenciado em Direito, Francisco André, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, foi, entre 2005 e 2008, chefe do gabinete do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros Jorge Lacão, bem como chefe de gabinete de António Costa entre outubro de 2018 e 2020. Posteriormente, foi “promovido” a secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, função que ocupou até ao final no anterior Governo de Costa.

Por sua vez, Paulo Cafôfo teve um percurso um pouco diferente. O atual secretário de Estado das Comunidades Portuguesas foi eleito presidente da Câmara Municipal do Funchal em setembro de 2013, tendo concorrido como cabeça de lista independente pela coligação Mudança. Nas eleições seguintes, Cafôfo foi reeleito para a Câmara do Funchal pela coligação Confiança e, desta vez, indicado pelo PS. Em junho de 2019, o então autarca renunciou ao mandato para ser o candidato indicado pelos socialistas à presidência do Governo Regional da Madeira, mas perdeu as eleições. Foi ainda deputado da Assembleia Legislativa da Madeira e é atualmente Presidente do PS da Madeira.

Outro dos exemplos flagrantes diz respeito a José Luís Carneiro. O ministro da Administração Interna conta no seu currículo com vários cargos ligados ao PS, tendo sido, por exemplo, chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS, presidente da Federação Distrital do Porto do PS, presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas e secretário-geral adjunto do PS, entre outros. Também a secretária de Estado da Administração Interna Isabel Oneto integra há vários anos funções ligadas ao PS, tendo sido eleita deputada em quatro legislaturas pelo círculo do Porto, bem como vereadora Câmara Municipal do Porto.

Nas Finanças, Fernando Medina tem um longo percurso ligado ao PS. Foi assessor para a Educação e assessor para os Assuntos Económicos do Governo de António Guterres, secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional no Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social no primeiro Governo de Sócrates e, posteriormente, secretário de Estado da Indústria e do Desenvolvimento no Ministério da Economia. Foi também presidente da CML, vice-presidente do grupo parlamentar do PS e é atualmente apontado como uns dos eventuais sucessores de Costa à liderança do partido.

No gabinete de Fernando Medina, Nuno Félix — ex-subdiretor da Autoridade Tributária e que ficou na pasta ocupada por António Mendonça Mendes como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais — iniciou a sua atividade profissional na advocacia, em outubro de 2008, sendo que dois anos depois ingressou na carreira diplomática, tendo trabalhado para o Ministério de Estrangeiros até agosto de 2013. Foi ainda adjunto, com funções de substituição, do chefe do gabinete, no gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais entre 2015 e 2017 e posteriormente chefe de gabinete de António Mendonça Mendes.

A par de Mariana Vieira da Silva e de Fernando Medina também Ana Catarina Mendes é apontada como “delfim” de Costa. Ao contrário deste dois, a atual ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares só agora assume funções executivas, tendo dado a “cara” pelo partido durante vários anos na Assembleia da República e sido inclusivamente presidente do grupo parlamentar do partido. No seu gabinete, a ministra conta com João Paulo Correia. O atual secretário de Estado da Juventude e do Desporto foi assessor e chefe de gabinete de Ana Paula Vitorino (na época secretária de Estado dos Transportes), deputado na Assembleia da República, adjunto do presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e vice-presidente do grupo parlamentar do PS.

Também o ministro da Saúde Manuel Pizarro — que substituiu Marta Temido, que se demitiu a 30 de agosto — tem uma longa carreira política, tendo sido secretário de Estado da Saúde entre 2008 e 2009 e secretário de Estado Adjunto e da Saúde nos dois anos seguintes. Licenciado em medicina e com especialidade em medicina interna, foi ainda presidente da distrital do PS do Porto, chegou a ser candidato à Câmara Municipal do Porto e foi também eurodeputado.

E da Saúde para o Ambiente, Duarte Cordeiro iniciou-se no círculo socialista da Juventude Socialista (JS), tendo chegado a secretário-geral da JS. Foi durante vários anos deputado no Parlamento, vice-presidente da CML quando Fernando Medina liderava a autarquia. Mas foi nos governos de Costa que ganhou relevo, tendo sido secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro e dos Assuntos Parlamentares no primeiro Governo de Costa, passou a secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no segundo Governo de Costa e atualmente é ministro do Ambiente e da Ação Climática.

Ainda pelo Ministério do Ambiente e tal como Duarte Cordeiro, Hugo Polido Pires deu os primeiros passos na política na JS, tendo sido presidente da distrital de Braga, tal como escreveu o Público. O atual secretário de Estado do Ambiente é deputado na Assembleia da República, tem exercido as funções de vice-presidente da bancada desde 2019 com as áreas do ambiente e energia, foi co-autor da Lei de Bases do Clima e coordenador do grupo de trabalho que criou a Lei de Bases da Habitação. Teve ainda uma passagem pela Câmara Municipal de Braga.

Também Pedro Nuno Santos conta com um vasto percurso no PS. Tal como Costa e Duarte Cordeiro, fez parte da JS e foi secretário-geral deste organismo 2004 e 2008. No período de liderança de António José Seguro, entre 2011 e 2014, fez parte do chamado grupo dos “jovens turcos”, juntamente com João Galamba, Pedro Delgado Alves e Duarte Cordeiro. Ocupou ainda funções como presidente da Federação de Aveiro do PS, deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PS. Mas foi no primeiro Governo de António Costa que se destacou, tendo sido um dos principais impulsionares da “geringonça” quando era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Posteriormente foi “promovido” a ministro das Infraestruturas e da Habitação, função que desempenhou até se demitir na sequência da polémica em torno da indemnização de 500 mil euros paga pela TAP a Alexandra Reis.

Na sequência deste caso também Hugo Mendes se demitiu, já que tinha dado o seu aval ao acordo, uma vez que “não viu incompatibilidades” na solução encontrada. O antigo secretário de Estado das Infraestruturas estava há vários anos ao lado de Pedro Nuno Santos (não só neste Ministério, mas também na secretaria de Assuntos Parlamentares) e também conta com uma vasta carreira ligado ao PS. Foi assessor da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, entre 2006 e 2009, transitando posteriormente para adjunto do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, José Almeida Ribeiro, entre 2009 e 2011. Além disso, foi também assessor do grupo parlamentar do PS, na Assembleia da República, e em especial na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública. Foi também secretário de Estado Adjunto e das Comunicações no segundo Governo de Costa.

Com a saída de Pedro Nuno Santos, o Ministério das Infraestruturas e da Habitação dividiu-se em dois. Para tutelar as Infraestruturas, o primeiro-ministro escolheu João Galamba. Pertencente à ala mais à esquerda do PS, o novo governante chegou ao Parlamento em 2009 permanecendo no hemiciclo nos dez anos seguintes, tendo sido coordenador dos deputados do PS na comissão de Orçamento e Finanças e vice-presidente do grupo parlamentar socialista. Neste governo, antes da demissão de Pedro Nuno Santos era secretário de Estado Adjunto e da Energia.

Frederico Francisco, novo secretário de Estado das Infraestruturas, pode também ser considerado como um “delfim” do ex-ministro das Infraestruturas, dado que acompanhava ou representava Pedro Nuno Santos em todas as iniciativas ligadas à ferrovia nos últimos anos. O físico com mestrado em engenheira aeroespacial estava na esfera na tutela do ex-ministro desde novembro de 2019, quando foi nomeado técnico especialista do seu gabinete. Em paralelo, era professor auxiliar convidado na Faculdade de Ciência da Universidade do Porto.

Também Marina Gonçalves tem uma carreira política ligada a Pedro Nuno Santos. A nova ministra da Habitação começou a sua carreira na área da advocacia, mas em 2015 entrou no Governo como assessora do gabinete de Pedro Nuno Santos (quando este era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares), sendo que nessa altura foi também assessora do grupo parlamentar socialista (e anos mais tarde chegou a vice-presidente). Posteriormente, entre março de 2018 e outubro de 2019, foi “promovida” a chefe de gabinete de Pedro Nuno Santos (quer quando este estava nos Assuntos Parlamentares como quando transitou para ministro das Infraestruturas e da Habitação). Já neste novo Governo era secretária de Estado da Habitação.

Já Teresa Coelho, secretária de Estado das Pescas, começou o seu percurso político como adjunta e chefe de gabinete do secretário de Estado das Pescas José Apolinário (de 1996 a 2002), foi adjunta do secretário de Estado da Administração Interna e da Proteção Civil (entre 2005 e 2008) e adjunta e chefe de gabinete do secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas no ano seguinte. Posteriormente e até voltar ao Governo desempenhou funções executivas em vários organismos ligados ao setor das Pescas.

Por sua vez, Carlos Miguel, secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, foi entre 2004 e 2015 vereador e presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, sendo que posteriormente transitou para o Governo. No primeiro Governo liderado por Costa foi secretário de Estado das Autarquias Locais e no segundo governo passou para secretário de Estado Adjunto e do Desenvolvimento Regional.

As “zonas cinzentas”

Por outro lado, há alguns governantes, que, apesar de terem algum percurso político ligado ao PS têm uma longa carreira fora das lides políticas. É o caso de Bernardo Ivo Cruz, secretário de Estado da Internacionalização, que conta com 30 anos experiência em diversos setores, “incluindo nos serviços financeiros, Governo, setor público, empresas privadas, ensino superior, ONGs ou Organizações Internacionais, segundo descreve o próprio no LinkedIn.

Tal como Gomes Cravinho fez parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros no primeiro Governo liderado por José Sócrates como chefe de gabinete do então ministro Freitas do Amaral, tendo posteriormente subido a subsecretário de Estado adjunto do mesmo ministério durante mais sete meses. Além disso, entre setembro de 2020 e agosto de 2021 foi conselheiro da Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia, quando Portugal tinha a Presidência do Conselho.

Outra “zona cinzenta” diz respeito a Marco Capitão Ferreira, atual secretário de Estado da Defesa, que foi adjunto do Ministro da Defesa Nacional entre 2006 e 2011, mas tem um vasto currículo ligado ao setor, tendo sido, por exemplo, investigador do Instituto de Defesa Nacional, Presidente do Conselho de Administração da Naval Rocha e, mais recentemente, Presidente da Comissão Liquidatária da Empordef, SGPS e da ETI, S.A.

Por sua vez, Jorge Alves Costa, atual secretário de Estado Adjunto da Justiça, iniciou-se na política em 1996 como funções de adjunto do secretário da Estado da Justiça e foi ainda chefe de gabinete do Ministro da Justiça, em 1999, sendo que mais recentemente (entre 2015 e 2017) foi chefe de gabinete da ministra Constança Urbano de Sousa. Ainda assim, conta com uma carreira na Justiça, tendo sido membro do Conselho Superior do Ministério Público (MP), assessor no gabinete do MP no Tribunal Constitucional, etc.

 João Nuno Mendes, atualmente o número dois nas Finanças, foi assessor económico do gabinete de António Guterres, entre 1996 e 1999, passou para secretário de Estado do Planeamento no Governo seguinte, sendo que posteriormente passou pelo setor empresarial (Grupo Amorim e Águas de Portugal). Integrou ainda o anterior executivo como secretário de Estado das Finanças.

Por sua vez, Pedro Sousa Rodrigues — atual secretário de Estado do Tesouro e que veio substitui Alexandra Reis, que se demitiu na sequência do caso TAP — estava há dez meses na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), antes de integrar este Executivo. Com uma carreira profissional feita maioritariamente no setor público, o atual secretário de Estado foi, durante cinco anos, adjunto secretário de Estado da Internacionalização — primeiro de Eurico Brilhante Dias e, mais recentemente, de Bernardo Ivo Cruz.

E das Finanças para a Economia, outra “zona cinzenta” diz respeito a João Neves, antigo secretário de Estado Adjunto e da Economia que foi afastado por divergências internas com Costa Silva. Apesar de uma longa carreira fora do Governo, chegou a ser chefe do gabinete do secretário de Estado da Indústria e, seguidamente, do Ministro da Economia de 1995 a 1997, diretor regional de Lisboa e Vale do Tejo do Ministério da Economia e chefe do gabinete do Ministro da Economia e da Inovação entre 2005 e 2007.

Já Ana Mendes Godinho iniciou a carreira consultora jurídica e inspetora do IDICT, tendo depois sido chefe do gabinete de Bernardo Trindade, quando este era secretário de Estado do Turismo. Trabalhou ainda para o Turismo de Portugal mas, em 2015, voltou para o Governo, desta vez como secretária de Estado do Turismo e em outubro de 2019 foi “promovida” a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, onde se mantém atualmente.

Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, foi, durante dois anos, adjunto no gabinete do primeiro-ministro António Guterres com funções de assessoria social e, posteriormente, secretário de Estado da Juventude também nos governos de Guterres. Depois disso, dedicou-se ao setor empresarial, tendo passado pela MRB Holding S.G.P.S, AICEP ou Santa Casa da Misericórdia. Por sua vez, Gabriel Bastos, prestou assessoria gabinetes ministeriais no âmbito da Segurança Social e do Equipamento Social, tendo assumido as funções de chefe do gabinete do ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, entre 2005 e 2007, no primeiro Governo de Sócrates, mas fez grande parte da carreira no Instituto da Segurança Social.

Percurso semelhante teve Ana Fontoura Gouveia, que na última remodelação foi “promovida” a secretária de Estado da Energia e do Clima. A economista e professora assistente de Finanças Públicas da Nova SBE passou por instituições de relevo até chegar ao Governo, nomeadamente pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco de Portugal (BdP). Não obstante, em 2015 trabalhou no gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e também exerceu funções no GPEARI do Ministério das Finanças, até 2018. Posteriormente regressou ao BdP, e, em 2019, voltou ao Governo para ser assessora económica de António Costa, função que desempenhou até à passada quarta-feira.

Já João Paulo Catarino, atual secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, foi de abril a outubro de 2005 adjunto do secretário de Estado do Desenvolvimento Rural das Florestas e, posteriormente, presidente da Câmara de Proença-a-Nova pelo PS, mas no seu currículo conta ainda com passagens em entidades como o Instituto de Conservação da Natureza ou na Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa.

Por sua vez, Jorge Delgado, atual secretário de Estado da Mobilidade Urbana, até chegar ao Governo (foi secretário de Estado das Infraestruturas no primeiro e segundo Executivos de Costa) desempenhou funções em empresas públicas, tendo sido presidente do Conselho de Administração da STCP entre janeiro de 2016 e janeiro de 2018 e, posteriormente CEO e chairman do Metro do Porto, segundo consta na sua página de LinkedIn.

E do Ministério do Ambiente para a Agricultura, Maria do Céu Antunes foi presidente da Câmara Municipal de Abrantes durante nove anos, presidiu ao Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, integrou Conselho Económico e Social e o Conselho das Comunidades e Regiões da Europa na Comissão Permanente para a Igualdade das Mulheres e dos Homens na Vida Local. Antes de ser ministra da Agricultura era, desde fevereiro de 2019, secretária e Estado do Desenvolvimento Regional.

Já Carla Alves – que foi escolhida para substituir Rui Martinho como secretário de Estado da Agricultura, mas que já se demitiu – exerceu funções em empresas públicas e esteve na direção Parque Biológico de Vinhais. Num percurso marcado por passagens em organizações e empresas do setor, desde 2000 estava no quadro técnico da Câmara Municipal de Vinhais, sendo, que entre 2005 e 2007, o presidente desta autarquia foi o seu marido, Américo Pereira, entretanto constituído arguido, estando acusado dos crimes de prevaricação, participação económica em negócio e de corrupção ativa.

De Costa Silva a Elvira Fortunato, os “fora da caixa”

Há ainda casos de atuais membros do Executivo que são independentes ou, apesar de serem militantes do PS, tiveram sempre uma carreira fora das hostes partidárias e apenas recentemente assumiram funções executivas. É o caso de Catarina Sarmento e Castro, atual ministra da Justiça. Filha do histórico socialista Osvaldo Castro, a jurista foi secretária de Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes do Ministério da Defesa no anterior Governo, mas conta com o vasto currículo ligado ao setor da Justiça, tendo sido juíza no Tribunal Constitucional, membro do Conselho Consultivo da PGR ou vogal da Comissão Nacional de Proteção de Dados, apesar de todos estes cargos serem de eleição parlamentar, tal como constatou o Público.

À semelhança da ministra da Justiça também António Costa Silva é independente. O atual ministro da Economia e do Mar ficou conhecido por “pai do PRR” por ter sido escolhido para desenhar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Com uma longa carreira no setor privado, nomeadamente no setor petrolífero (era CEO da Partex), só neste Governo assumiu funções executivas. Também Rita Marques, ex-secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, era independente quando entrou no Governo, sendo que à semelhança de João Neves foi afastada por divergências com Costa Silva. Agora está envolta em polémica por ir exercer funções de administradora na The Fladgate Partnership, uma empresa à qual concedeu benefícios quando era governante.

Por sua vez, o secretário de Estado da Economia Pedro Cilínio, conta com anos de experiência no IAPMEI no apoio às empresas, enquanto Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, é deputado do PS desde 2019, mas antes foi assessor de Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo do Governo de coligação PSD/CDS.

Por outro lado, Pedro Adão e Silva, antes de assumir a pasta da Cultura, tinha sido escolhido pelo Governo de António Costa para liderar as comemorações dos 50 anos do 25.º de abril, no entanto, até então não tinha assumido funções executivas.

Outro dos casos de governantes independentes é o de Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que conta com um longo percurso académico e tendo recebido vários prémios na área de investigação, nomeadamente por ter inventado o transístor de papel.

Já Ana Abrunhosa até entrar para o Governo era presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR-C), tendo sido responsável pela gestão da reconstrução das casas dos incêndios de 2017. A ministra da Coesão Territorial tem feito carreira na área dos fundos europeus e foi deputada municipal como independente em Meda, na lista do PSD.

Por outro lado, o ministro da Saúde Manuel Pizarro optou por escolher para seus secretários de Estado especialistas que não tinham até então funções governativas. Ricardo Mestre, secretário de Estado da Saúde tinha sido nomeado no final de junho do ano passado para o cargo de subdiretor-geral da Direção-Geral da Saúde, em regime de comissão de serviço, tendo ocupado outras funções ligadas ao setor.

Ao mesmo tempo, Margarida Tavares, secretária de Estado da Promoção da Saúde, era assistente graduada de infecciologia do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João e Coordenadora da Unidade de Doenças Infecciosas Emergentes do mesmo centro. Os dois secretários de Estado vieram substituir António Lacerda Sales (que ganhou relevância política quando entrou no Governo e chegou a ser apontado como possível substituto de Marta Temido) e Maria de Fátima Fonseca, que deixaram as respetivas funções governativas, na sequência da saída Temido.

Na Proteção Civil, Patrícia Gaspar, atual secretária de Estado da Proteção Civil, apesar de ser militante do PS e de ter sido secretária de Estado da Administração Interna no anterior Governo de Costa, tem uma longa carreira na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Outro exemplo é o de Maria Fernanda Rodrigues, nova secretária de Estado da Habitação, que conta com um extenso currículo na área da Engenharia Civil e nunca esteve ligada à política

A LIBERDADE QUE O 25 DE ABRIL DEU A ESTA GENTALHA SEM ESCRUPULOS, POLITICOS DE UMA PROFISSÃO QUE NÃO EXISTE. UMA VERGONHA E UMA TRAIÇÃO AO PAÍS QUE DIZEM DEFENDER NA ASSEMBLEIA DA RÉPUBLICA.

FIM

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O COLONO OCIDENTAL !!!!

🙈🙉🙊 Foi dada a independência aos territórios africanos, porque estava administrado pelo colono Branco, racista e explorador.

Após a independência, fogem dos seus Países para a terra do colono branco, racista e explorador e até desejam ter a nacionalidade do colono Branco

Na Terra do colono branco, racista e explorador é-lhes dado qualidade de vida e bem-estar que não têm nos seus Países, apesar de décadas de Independência. 

Apesar disso o colono branco é racista e explorador

Os que não conseguiram fugir dos seus Países Africanos o maior desejo é vir para a terra do colono branco, racista e explorador e conseguir a nacionalidade do branco


POSTO ISTO, ALGUEM ME EXPLICA SE ISTO É SADOMASOQUISMO, HIPOCRISIA, DESONESTIDADE INTELECTUAL OU BURRICE.


domingo, 11 de dezembro de 2022

CORRUPÇÂO EM PORTUGAL e a culpa da Democracia dos Politicos ...

 

Pois é !!!!! 

Portugal transformou-se num dos países mais corruptos da Europa. Nos indicadores de transparência da Transparency International, ocupamos um vergonhoso 32º lugar no ranking, integrando o grupo dos piores estados europeus. E somos mesmo dos países que mais depreciou a sua situação, pois em 2000 ocupávamos a 23ª posição. O que nem admira, já que os casos de corrupção nas últimas décadas se sucederam de forma vertiginosa. Tivemos corrupção na Expo 98 e no Euro 2004, na distribuição de verbas do Fundo Social Europeu; houve desvios de dinheiros na construção da Ponte Vasco da Gama e também nas parcerias público-privadas. Na Banca, foi um fartar de vilanagem, com desfalques de dezenas de milhares de milhões no BPN, no BPP, no BES. Só neste caso, o Estado foi lesado em 12 mil milhões.

 

Perante este descalabro, que soluções tem encontrado o Estado português? De facto, nenhuma; ou, até pior, simula que combate a corrupção, quando de facto a incentiva e estimula. Criou-se o Conselho de Prevenção da Corrupção, há já 14 anos, que se revelou um organismo absolutamente inútil, apenas servindo para obrigar entidades públicas a elaborar planos de prevenção de corrupção e riscos conexos, que a maioria logo de seguida meteu na gaveta. Face ao fracasso, criou-se de seguida o Mecanismo Nacional Anticorrupção, que tem presidente e vice-presidente, mas não tem actividade.

Exemplo ainda mais escandaloso é o da Entidade da Transparência, criada em 2019, que deveria controlar rendimentos de políticos; ao fim de três anos, esta Entidade ainda nem está na ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA instalada, os ganhos patrimoniais de políticos estão sem controlo.

Todas as organizações nacionais de combate à corrupção são nados-mortos ou entidades a fingir. Mas este Estado sem-vergonha vai mais longe: assinou a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, mas não cumpre as deliberações previstas na Convenção, falhando na prevenção de conflitos de interesses e na recuperação de activos. Portugal integra o Grupo de Estados Contra a Corrupção, mas não cumpre as suas recomendações. Como o Estado não consegue ludibriar as organizações internacionais, a reputação nacional nesta matéria está nas ruas da amargura. No meio de tanto fingimento, só a corrupção continua demasiado real.

 NOS INDICADORES DE TRANSPARÊNCIA DA TRANSPARENCY INTERNATIONAL, OCUPAMOS UM VERGONHOSO 32.º LUGAR NO RANKING DA CORRUPÇÃO

Obrigado á Assembleia da República  de Portugal aos seus Deputados representantes do Povo e aos Políticos no Governo e da oposição e ao 25 de Abril....

sábado, 16 de julho de 2022

ELMOLANDIA ou a Lei da Elma ou Telma ou lá como é que ela se chama !!! A mana do CR7 !!!

 Não há quem ignore o peso do futebol e das coisinhas do futebol no nosso país. É uma realidade que pode chocar os espíritos mais sensíveis às altas questões com que a humanidade se debate e menos sensíveis aos temas folclóricos, mas lá que é uma realidade, é. Se, por qualquer espécie de intervenção divina, desaparecesse o jogo da bola do quadro das preocupações nacionais do que falariam os portugueses de manhã até à noite? De hóquei em patins? Talvez. De golfe não seria certamente. E ainda bem porque dá calafrios só de imaginar nove milhões de portugueses munidos de nove milhões de tacos de golfe. A verdade é que, na sua importância mundana, o futebol cria as suas regras muito próprias de conduta, cria pessoas importantes, elites e cria, também, os seus proscritos.

O mais esclarecedor exemplo do comportamento social do ‘país do futebol’ dentro do ‘país a sério’ que é Portugal foi-nos fornecido esta semana por Elma Aveiro, que é a irmã mais velha de Cristiano Ronaldo, que, por sua vez, é o capitão da seleção nacional e o mais laureado de todos os futebolistas portugueses em mais de um século de bola. De acordo com a irmã deve o irmão estar acima de tudo o que é exigível por lei aos cidadãos comuns por dever da nação em expressar a sua gratidão ao homem que já trouxe cinco Bolas de Ouro para Portugal. Elma Aveiro sente de tal maneira entranhado no seu ser que pertence à realeza da república que considera um escândalo a PSP ter multado e rebocado o Rolls-Royce da família real dos Aveiros por estar estacionado numa paragem de táxis no centro de Lisboa. “Triste país o nosso”, protestou Elma numa qualquer rede social contra a não discriminação das práticas civilizacionais que são atributo exclusivo dos heróis. Tivesse Cristiano Ronaldo trazido para Portugal não cinco, mas dez Bolas de Ouro e, segundo as leis da Elmolândia, poderia estacionar o seu Rolls-Royce na nave central do Mosteiro dos Jerónimos ou na Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha e o que tínhamos mais era de agradecer. Vivemos, contudo, num regime democrático. Quem quiser viver na Elmolândia faça o favor de se inscrever.

Temos, também, no nosso país a Pintolândia que é o país alternativo e com as suas leis próprias onde reina o presidente do FC Porto vai para quatro décadas. Esta semana, defendendo um negócio recente que fez com o presidente do Sporting de Braga e que motivou acesa discussão em fóruns civis, afirmou sem rodeios que “quem não é sério vê maldade em tudo”. Esta frase bem podia ser o lema sagrado da Pintolândia e inscrita em letras douradas logo na abertura da Constituição da Pintolândia de modo a celebrar o regime da dita Pintolândia e a receber de braços abertos todos os que queiram lá viver. Já foram mais, é verdade.n

O presidente do Sp. Braga é uma das figuras maiores deste defeso, sabendo imiscuir-se com proveito próprio nas guerras de mercado entre Benfica e FC Porto.n

FUTURO PROMISSOR

A caminho dos 23 anos, o ex-Barcelona chega ao Sporting pela mão de Rúben Amorim, que o lançou em Braga e que tem agora para ele projetos de outra dimensão.n

ESTA FRASE – QUEM NÃO É SÉRIO VÊ MALDADE EM TUDO – PODIA SER O LEMA DA PINTOLÂNDIA

MISTÉRIOS DO FUTEBOL

Inesperadamente, o treinador do Vitória de Guimarães deixou de ser o treinador do Vitória de Guimarães a poucos dias da abertura da temporada oficial. Porquê?

domingo, 3 de outubro de 2021

A despedida de Ângela Merkel - Uma grande Senhora da política mundial.

 

OS NOSSOS POLITICOS QUE ABRAM A PESTANA!!!!!!! Pandora Papers, Panamá Papers e outros Papers !!!! Politicos de Portugal !!! TENHAM VERGONHA MUITA VERGONHA

 

ALEMANHA DESPEDIU-SE DE ANGELA MERKEL

 Com seis minutos de calorosos aplausos, nas ruas, varandas, janelas, todo o País aplaudiu durante 6 minutos - um exemplo espetacular de liderança e defesa da humanidade. Tiro o meu chapéu!

 Os alemães elegeram-na para os liderar e ela liderou 80 milhões de alemães por 18 anos com habilidade, dedicação, sinceridade e honestidade. Ela não disse bobagem. Ela não apareceu nas ruas secundárias de Berlim para ser fotografada. Ela foi apelidada de "A Senhora do Mundo" e foi descrita como o equivalente a seis milhões de homens.

Durante esses dezoito anos de liderança do seu país, nenhuma transgressão foi registada contra ela. Ela não designou nenhum dos seus parentes para um cargo governamental. Ela não afirmou ser a criadora de glórias. Ela não recebeu milhões de euros em pagamento, ninguém aplaudiu seu desempenho, ela não recebeu alvarás e promessas, ela não lutou contra aqueles que estiveram antes dela.

Merkel deixou a posição de liderança do partido e entregou-a aos seus sucessores, e a Alemanha e o seu povo alemão estão nas melhores condições.

 A reação dos alemães foi sem precedentes na história do país. Toda a população saiu das suas casas para as suas varandas e espontaneamente torceu por ela por 6 minutos consecutivos. Uma ovação de pé em todo o país.

A Alemanha despediu-se da sua líder, uma físico-química que não foi tentada pela moda ou pelo iluminismo e não comprou imóveis, carros, iates ou aviões particulares, sabendo que “ela é da antiga Alemanha Oriental.

Ela deixou o seu cargo depois de posicionar a Alemanha no topo. Ela foi embora e os seus parentes não pediram mais. Dezoito anos e nunca mudou de guarda-roupa.

 Em uma entrevista coletiva, um repórter perguntou a Merkel: - Notamos que você está usando sempre o mesmo terno, não tem um diferente? Ela prontamente respondeu: "Sou funcionária do governo e não modelo"

 Em outra entrevista coletiva, perguntaram-lhe: Você tem empregadas que limpam sua casa, preparam suas refeições, etc.? Sua resposta foi: "Não, não tenho servos e não preciso deles. Meu marido e eu fazemos esse trabalho em casa todos os dias.

 Em seguida, outro repórter perguntou: Quem lava a roupa, você ou seu marido? Sua resposta: "Eu arrumo a roupa, e é meu marido que liga a máquina de lavar, e geralmente é à noite, porque a energia elétrica está mais disponível e não há pressão, e o mais importante é ter cuidado para não causar qualquer inconveniente para os vizinhos. Felizmente, a parede que separa nosso apartamento dos vizinhos é grossa. Ela disse-lhes: "Eu esperava que vocês me perguntassem sobre os sucessos e fracassos do nosso trabalho no governo ??!!!"

 A Sra. Merkel mora num apartamento normal como qualquer outro cidadão. “Ela já morava nesse apartamento antes de ser eleita Chanceler da Alemanha. Ela não o trocou e não possui uma vmoradia, empregados, piscinas ou jardins. "

 Merkel, a agora ex-chanceler alemã, a engenheira da maior economia da Europa !!!

 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Henrique Gouveia e Melo O Vice Almirante do combate ao Virus da China

 O vice-almirante que vacina o país nasceu em Moçambique e fugiu com os pais para São Paulo a 25 de novembro de 1975. Passou mais de 800 dias da sua vida fechado em submarinos*

Margem de erro: zero. Nível de stresse: máximo. Era preciso decidir
rapidamente, com sangue-frio e de uma só vez. Tinha apenas 20 minutos para
salvar o submarino e os homens, enquanto a água inundava o compartimento a
um ritmo infernal. Assim que as máquinas fossem alagadas, o “Delfim”
morria, tornava-se pesado e desaparecia para sempre no fundo do
Mediterrâneo. Mandou os 53 homens da guarnição prepararem os procedimentos
para abandonarem o navio e pediu para ficar sozinho na ré, a analisar o
desastre. “Preparem-se e avisem Lisboa que estamos com um problema grave!”
Fez uma marca para ver quanto tempo demorava a água a subir e calculou:
eram só aqueles 20 minutos... Um engenheiro tinha mergulhado até à zona da
fissura e concluído que as bombas já não tiravam água suficiente: “Não
estamos a conseguir!” Com a tripulação instável, Henrique Gouveia e Melo, o
comandante, tomou uma decisão interior que o acalmou. “Aconteça o que
acontecer, não abandono o navio. Prefiro morrer aqui do que ter de viver
para justificar a perda do submarino.” Ainda lhe atravessou o espírito a
história de um comandante da Marinha portuguesa, que certa vez abandonou o
posto e foi forçado a voltar para bordo porque o navio acabou por não
afundar. Ele não passaria por vergonhas dessas.

É um racionalista, um matemático que desde miúdo se diverte a estudar
física. Talvez isso o tenha salvo. Quase por instinto, lembrou-se de uma
manobra tão rara e hipotética que nunca a treinava: fechar o submarino —
que na realidade é um tubo estanque dividido em cinco compartimentos — e
aspirar o ar de fora para o interior, de modo a tornar o navio numa gigante
câmara hiperbárica: com maior pressão do ar, a água deveria começar a ser
empurrada para sair, em vez de entrar. Funcionou. Salvou-se a guarnição e
salvou-se o navio. “Foi talvez a situação mais complicada que vivi”,
recorda hoje, aos 60 anos, o vice-almirante Gouveia e Melo,
coordenador da *task
force *da vacinação, e o oficial da Marinha com mais horas de navegação e
de imersão submarina: 31 mil horas de navegação e mais de 20 mil debaixo do
mar (o que dá 2,3 anos fechado dentro de uma cápsula). É um operacional. Um
duro.



*LIDERANÇA* “Os títulos têm o poder e a responsabilidade associados.
Ninguém tem poder nas Forças Armadas sem ter as responsabilidades”, diz
Gouveia e Melo



Entrou em meados de dezembro do ano passado para número dois da equipa da *task
force* que tem como missão vacinar os portugueses e com o objetivo alcançar
a imunidade de grupo em relação à covid-19 este verão. Tornou-se uma
celebridade de camuflado verde, coisa rara em Portugal quando estão em
causa militares, para combater não um Exército ou uma Armada, mas um vírus.
Em fevereiro, com avanços e recuos no processo, escândalos de vacinações de
políticos e autarcas, Francisco Ramos, o coordenador da equipa, demitiu-se
após somar mais uma polémica com vacinações prioritárias, desta vez no
Hospital da Cruz Vermelha, onde ele próprio presidia à comissão executiva.
Quem ascendeu ao comando? Um militar desconhecido da opinião pública,
intolerante face a facilitismos e capaz de discutir estatística ou
derivadas integrais com peritos e epidemiologistas. “Não me atrevo a fazer
uma avaliação”, diz ao Expresso Francisco Ramos, o antecessor de Gouveia e
Melo, “mas parece que as coisas estão a correr muito bem e sinto orgulho em
ter colaborado nos primeiros dois meses de trabalho”, reconhece.

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo tornou-se um mito vivo da
esquadrilha de submarinos, não só pela sua conhecida dureza mas por ter
como objetivo passar dos limites — “se uma pessoa dá 10 eu peço 12, se dá
12 vou pedir 14”, chegou a assumir recentemente ao Expresso numa reportagem
sobre o processo de vacinação. Influenciado pelos estereótipos da II Guerra
do filme “Das Boot”, sobre um submarino alemão, no 4º ano da Escola Naval,
decidiu-se pela arma marítima de combate por excelência: “Queria fazer uma
carreira com esforço”, para que nada lhe “apontassem no futuro”. Escolheu a
vida mais difícil, andar semanas fechado dentro de um casulo sem duche, a
lavar-se com toalhetes de bebé, onde 50 homens partilhavam apenas duas
casas de banho, e onde em cada cama rodavam três militares por turnos (nos
submarinos antigos, todos dormiam em regime de cama quente, menos o
cozinheiro e o comandante). Para ele, navegar nos navios de superfície era
uma limitação, não lhe davam o estímulo de passar para uma terceira
dimensão: a da profundidade.

Em 1996, teve mais uma das suas ideias. Os velhos submarinos da classe
“Daphné”, de construção francesa e usados por Portugal entre 1968 e 2010,
tinham um recorde também francês: 30 dias seguidos no mar. Ele propôs ao
comandante da esquadrilha chegar aos 31. Em Portugal, o recorde eram apenas
18 dias. “Não foi bem pelo recorde”, justifica Gouveia e Melo ao Expresso.
“O que me passou pela cabeça é que o submarino era o último refúgio de
defesa do país em caso de crise. Enquanto um submarino estivesse a navegar,
nunca haveria uma frota inimiga no mar, o que dava mais tempo de negociação
ao Governo.” Era uma questão estratégica. Como tinha agendadas duas missões
de 15 dias praticamente seguidas, pediu autorização para fazer tudo de uma
só vez ao comandante da esquadrilha — vice-almirante Gaspar, pai de
Patrícia Gaspar, a atual secretária de Estado da Administração Interna e
ex-porta-voz da Proteção Civil durante os fogos de 2017. Foi aprovado. A
guarnição foi voluntária: quem queria passar o mês seguinte fechado num
charuto debaixo de água sem falar com a família? Chegaram a ter 56 homens
embarcados (naqueles submarinos só havia homens, nos novos já há mulheres).

“Foi um desafio logístico”, recorda ao Expresso Miguel Silva Gouveia,
capitão-de-mar-e-guerra na reserva, que participou na missão como chefe de
serviço de navegação e que fez quase toda a carreira comandado por Gouveia
e Melo. “Mas também foi uma forma de ver a reação das pessoas num ambiente
extraordinariamente hostil.” Pela primeira vez, improvisaram dois chuveiros
de água salgada no pequeno compartimento onde se lavavam as louças da
cozinha, e cada submarinista recebia duas garrafas de litro e meio de água
doce por semana para tirar o salitre no fim do duche, lavar os dentes ou
fazer a barba. O “posto a vante”, onde dormiam as praças, encheu-se de
víveres e de água, de modo que dificilmente os militares podiam andar
direitos. A comida fresca durou uma semana, o pão congelado aguentou 15
dias, a maior parte das refeições era liofilizada e os últimos dois dias
foram passados a comer rações de combate. Uma epopeia.

*“**Aconteça o que acontecer, não abandono o navio. Prefiro morrer aqui do
que ter de viver para justificar a perda do submarino”, pensou no momento
mais crítico da carreira*

Quase sem combustível, quando desembarcou no Arsenal do Alfeite havia um
arraial montado, com balões a enfeitar, a banda da Armada a tocar marchas,
o chefe do Estado-Maior e as televisões. Gouveia e Melo achou “demais”.
Irritou-se, foi ao balneário tomar os seus dois ou três banhos para tirar o
cheiro a submarino, seguiu para casa e nem aos jornalistas falou. “Não
perceberam. Gosto de fazer coisas difíceis, mas as manifestações de apreço
não me interessam. Queria chegar em silêncio, atracar, beber um café, tomar
os banhos e ir para casa.” Quando termina uma missão difícil, começa a
pensar na outra.

O homem que pôs o processo de vacinação sobre carris, apesar da imagem de
competência, não é consensual na Marinha: tem os seus detratores, é visto
como um alguém que não olha a meios para atingir os objetivos, mesmo que
tenha de levar os outros à exaustão, é considerado ambicioso, mas
dificilmente chegará a chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), porque — se
o calendário se cumprir — passa à reserva antes do fim de mandato do atual
CEMA, almirante Mendes Calado.

“Um submarinista é um gajo duro”, defende-se. Ele nem era de cultivar
aquela coisa dos submarinistas levarem uns ‘mimos’ para partilharem nos
primeiros dias, um queijo ou um chouriço, um doce, antes que o cheiro a
óleo, metal e suor tomasse conta de tudo ao fim de uns dias de navegação.
“Não os censurava e até comia, mas acho que como o corpo precisa de
sofrimento para se tornar atlético, devíamos fazer as coisas sem paliativos
e sorver a experiência na totalidade para nos prepararmos para o futuro.”
Nem a mulher se ia despedir dele à doca quando saía nas missões, nem ele
lhe dava uma data certa de regresso. Voltava quando o submarino voltasse,
era assim. Pode ter a ver com educação e com tudo aquilo por que passou até
estabilizar na Marinha. O primeiro casamento acabou por não resistir a esta
vida de marinheiro das profundezas.

*O VACINADOR-MOR DA REPÚBLICA*

À frente da *task force* de vacinação desde fevereiro, Gouveia e Melo está
concentrado em “acabar bem” esta missão porque sabe da sua importância para
“todos os portugueses e também para as Forças Armadas”. O atraso dos
laboratórios no envio das doses para Portugal tem sido o maior obstáculo do
seu mandato. Mas também a desorganização de alguns centros de inoculação.
Recentemente, a pedido do presidente da Câmara de Sintra, deslocou-se
pessoalmente a um centro de vacinação em Monte Abraão, forçou alterações
nas salas, nos procedimentos e no contacto com a população.

No início de junho, foi homenageado pela Ordem dos Médicos, que lhe
ofereceu um submarino feito à mão por um profissional de saúde. O
bastonário Miguel Guimarães descreve Gouveia e Melo como “um verdadeiro
líder” e “um homem corajoso”, o tipo de perfil de que Portugal “precisava
numa crise como esta”. O vice-almirante é “quem melhor comunica” no país,
acrescenta o bastonário ao Expresso — na verdade, também se treinou como
relações públicas da Marinha, cargo que exerceu durante dois anos quando o
concurso para a compra dos submarinos fazia manchetes nos jornais e Paulo
Portas era ministro da Defesa. Além da “boa capacidade de organização” e da
“disciplina férrea”, Gouveia e Melo “sabe ouvir e envolver as pessoas”,
descreve Guimarães.

Mesmo tendo saído do cargo sob uma enxurrada de críticas, o ex-governante
socialista Francisco Ramos, antecessor de Gouveia e Melo na
coordenação da *task
force*, destaca-lhe o “rigor e a competência” assim como o “espírito de
missão”, e garante não ter vivido choques entre a cultura civil e da função
pública e a dos militares: “Não me parece que tenha havido choques. Houve
complementaridade entre as várias culturas na *task force* e esse aspeto é
o fator que justifica o sucesso na concretização do plano”, diz ao
Expresso. Se ficou alguma animosidade, não transparece.

“Para não me deixar perturbar pelo processo, foco-me todos os dias no
essencial”, explica Gouveia e Melo. “A essência da minha missão é resolver
um problema. E esse foco desliga-me muito das outras preocupações.” Não tem
sido sempre fácil, por vezes faltam-lhe os meios para resolver os
problemas. E concede ser “um bocado ansioso”. Tirando isso, dorme bem todos
os dias: “Como adormeço muito cansado, adormeço imediatamente.” Mas se for
preciso, mostra os dentes. Por “coisas que não aconteceram”, por “pessoas
que dizem que fizeram uma coisa e não fizeram”, por quem “é muito
inteligente em casa mas finge-se de parvo quando é para trabalhar para o
Estado”. “Esse tipo de gente de vez em quando vê-me a mostrar os dentes”,
atalha.

Foi sempre assim ao longo da sua carreira, garante, admitindo ter “muitos
detratores” na Marinha. “Sempre fui muito exigente no meio português, que é
pouco exigente por natureza e por cultura”, o que cria de imediato “uma
singularidade”. Mesmo para o padrão das Forças Armadas diz-se “muito
exigente” e, às vezes, as pessoas queixam-se, confundindo a sua exigência
com falta de humanidade ou empatia. Estão erradas, assegura: “Tenho
relações humanas muito fortes com os meus colaboradores.” O que não tem é
empatia para malandros. “Aí sou mesmo mau. Quando um malandro começa a
fazer malandrices, sou conhecido por não ser nada simpático.” E é então que
mostra os dentes. Não precisa de uma “equipa de Ronaldos”, de “gente de
primeiras águas”, trabalha com qualquer pessoa desde que esta dê “o máximo
que pode dar”. Se for honesta, trabalhadora e dedicada, está “sempre de
bem” consigo. Quem se deu mal na sua carreira foram mesmo os malandros,
insiste, “esses deram-se francamente mal”. Quanto aos detratores, garante
que não lhe ocupam o espírito. “Desde que não atrapalhem o percurso que
tenho de fazer, passam a ser indiferentes. E, por isso, a minha ânsia
reflete-se mais em mim e na necessidade de estar permanentemente a
encontrar novas soluções. Isso também é o meu alimento.”

Quem trabalhar com ele corre o risco de chegar a casa de rastos. “O pessoal
que andava com ele estava lixado. Exigia o máximo. Em missão não perdoava,
mas não perdoava primeiro a ele próprio. Quem quisesse fazer o mínimo não
se dava bem. Se fosse preciso não dormir, ficava sem dormir até cair para o
lado”, lembra o vice-almirante Conde Baguinho, dos tempos em que o
comandou. “Dedica a vida à missão que tiver em cada momento”, reforça o
capitão-de-fragata Farinha Alves, atualmente comandante da esquadrilha de
submarinos. Durante o processo de aquisição dos novos submarinos, lembra-se
de o ver “começar às oito da manhã, trabalhar até às 20h, meter-se num
avião para discutir coisas com os alemães, e regressar para a esquadrilha
em vez de ir para casa”. Nas equipas que lidera, ele torna-se “a
referência”, mas “nunca exige aos outros aquilo que ele não exige primeiro
a si próprio”. O ex-CEMA Macieira Fragoso reconhece que o atual responsável
pela vacinação “não é uma pessoa amada por todos, é muito exigente, mas
toda a gente o respeita pelo que ele sempre conseguiu”.

Distingue entre o que gosta e o que tem de fazer. Neste momento o que tem
de fazer é completar a vacinação dos portugueses. O que gosta — sempre — de
fazer é ser marinheiro. Se for necessário, aceitará um eventual convite
para revacinar o país? “Acho que alguém tem de continuar o meu trabalho.
Nenhuma organização deve estar presa a um homem. Ao mesmo tempo que
desenvolvo respostas e soluções, é uma obrigação minha ir preparando a
organização para sobreviver sozinha. Não quero ser o tipo imprescindível. O
cemitério está cheio de imprescindíveis.” Além disso, esta é uma missão de
exceção e da área da saúde. Ainda que não pense “noutra coisa neste
momento”, esta é uma missão para gente da saúde, insiste. E ele não foi
para médico nem enfermeiro. É militar. Daí que anseie que, “mais tarde ou
mais cedo”, este processo encontre resposta nas “estruturas normais do
Ministério da Saúde”. Quanto ao seu futuro, gostaria de estar envolvido
numa “missão difícil e interessante”, se possível ainda mais difícil e
interessante do que as que já realizou. Andou em lanchas, comandou dois
submarinos ao mesmo tempo — o “Barracuda” e o “Delfim” —, passou para os
navios de superfície, os “alvos”, como lhes chamam os submarinistas, e
comandou a fragata “Vasco da Gama”, chefiou a esquadrilha dos submarinos,
foi comandante naval e chefe de gabinete do CEMA e foi adjunto para o
Planeamento e Coordenação no Estado-Maior-General das Forças Armadas.
Falta-lhe ser chefe do Estado-Maior da Armada, mas só poderá ser
considerado como uma hipótese caso o atual CEMA não termine o mandato.

“Em terra somos mesmo pequenos”, declara. Um país pequeno, localizado no
extremo sudoeste da Europa, que sofre de “um complexo de província”. No mar
é o oposto: “Somos gigantes. É o que nos dá importância geoestratégica.”
Mas Portugal insiste em olhar só para a terra, lamenta. Gouveia e Melo teme
que o país perca o acervo estratégico e económico do mar. “No mar é que
somos grandes”, insiste, algo que foi percebido rapidamente por D. João II.
Aliás, para ele só houve dois reis em Portugal: “D. Afonso Henriques, que
teve a ideia inicial, e D. João II, que deu uma nova ideia estratégica a
este Portugal, que saiu da fronteira de Espanha.” Caso contrário, seríamos
“um país encurralado”.

*QUELIMANE, 25 DE NOVEMBRO E SÃO PAULO*

Nasceu em Quelimane, capital da província moçambicana da Zambézia, virada
para o oceano Índico, a 21 de novembro de 1960. É escorpião, signo de água,
o elemento onde passou a vida, segundo filho do casal. “Em África
trabalhava-se muito mas havia uma liberdade que não existia em Portugal”,
conta. Não esconde que a sua família vivia numa situação de privilégio, mas
também não era menos verdade que tinha de vencer constantes obstáculos. As
distâncias eram muito grandes, e o sistema encarregava-se de puxar pelas
pessoas e de as obrigar a ser desenrascadas. Como ele: “Era um miúdo muito
desenrascado e fazia pela vida.” Caso contrário, não teria como resolver os
problemas, era necessário fazer um mínimo de planeamento. “Não tínhamos
coisas acessíveis ali ao lado.” O que não havia era preciso importar e, por
vezes, tratava-se de uma importação específica de um determinado
equipamento para uma função concreta. Ao conviver na escola com “miúdos
muito mais velhos” e para “não sofrer *bullying* e essas coisas”, tinha de
ser desenvencilhado. Nunca gostou muito de futebol por ser “muito comprido
e desajeitado”, mas praticava natação e vela. Nadava muito bem de bruços e
chegou a ganhar alguns prémios, na vela começou com oito anos. Também se
destacou no ténis de mesa. Praticou estes desportos durante muitos anos,
incluindo na Escola Naval. A natação até muito mais tarde. Depois a vida
profissional acabou por se impor.

*“**Um submarinista é um gajo duro”, diz Gouveia e Melo. “Quando um
malandro começa a fazer malandrices, sou conhecido por não ser nada
simpático**”*

Não é pessoa de ter muitos *hobbies* — ou melhor, os que tem são “mais
diferenciados” do que os da maioria das pessoas. “Quando estou stressado,
leio matemática ou física. Gosto muito de computação e do movimento ‘*do it
yourself*’, de construir coisas. Quando era pequeno já era um engenhocas”,
explica. Sempre foi curioso. Quando tinha um problema, corria para os
livros de matemática, física, computação, “o que fosse necessário” para o
resolver. Assim foi ao longo de toda a vida. Aliás, os seus passatempos
tiveram sempre alguma aplicação na profissão. Criou um centro de inovação e
experimentação operacional quando foi comandante naval. Divertia-se com
mais quatro pessoas a inventar traquitanas para derrubar navios a baixo
custo. “Uma vez esteve cá um *destroyer* inglês de última geração, e
provámos que as defesas aéreas eram vulneráveis a drones feitos por nós”,
diz, entre risos.

O pai era advogado, tendo também sido temporariamente juiz. Quando saíram
de África, tinha ele 14 anos, o pai estava “irritado com o sistema”. Na
metrópole, eram vistos como “os colonialistas”. Acabaram por emigrar para o
Brasil. “Já tínhamos sofrido bastante em África. Perdemos tudo, todas as
propriedades.” A família receava que Portugal mudasse “para um sistema de
Leste, para o comunismo duro”. “O meu pai achou que não queria viver num
país assim”, recorda, mas acabaram por sair precisamente a 25 de novembro
de 1975, o dia da contrarrevolução. O navio já ia a sair da barra quando o
pai terá confessado à família: “Acho que me enganei e devia ter esperado
mais dois ou três dias.” Como cidade, São Paulo, onde atracaram, era uma
cidade gigantesca, assim como Quelimane era gigantesca na extensão
territorial. Em África a natureza obrigava-os a serem próximos uns dos
outros para se defenderem. O Brasil era um formigueiro humano, uma selva
urbana, e viviam “em constante perigo do crime”. Acabaram por se habituar e
ganhar defesas. Em São Paulo e em Quelimane “os sistemas de sobrevivência
eram os mesmos”. “Nós, que vínhamos de África, tínhamos *skills* de
sobrevivência tão apurados que depois nos ajudavam a sobreviver num outro
ambiente”, resume.

Henrique era “um marrão”, mas o pai proibia-o de estudar tanto. Estudava de
manhã num colégio, que era a escola oficial, e à tarde inscreveu-se num
colégio particular “para ir avançando nos estudos”. Tinha 11 horas de aulas
por dia e depois o resto do tempo ainda era para estudar. “O meu pai
obrigava-me a apagar a luz à uma da manhã e não gostava que eu estudasse
tanto”, recorda.

De regresso a Portugal, entrou na Marinha aos 19 anos. Sentiu que a sua
maturidade era maior do que a dos seus camaradas de curso. “Era muito mais
velho mentalmente do que os outros. Não tinha paciência para certas
brincadeiras.” Mas a maturidade é muito acelerada na Escola Naval, porque o
sistema militar pretende dar autonomia e capacidade de liderança na
formação de oficiais.

*GUERRA É GUERRA: “CUIDADO, O MELO ESTÁ NO MAR!”*

É duro, sim, é um dos principais defeitos que lhe apontam, mas também uma
das qualidades, depende do contexto. Traça um rumo, vê um objetivo e não se
desvia, mesmo com um mar de circunstâncias alterado. “Vai sempre ao limite
porque é extremamente determinado”, diz Silva Gouveia, que chegou a ser
imediato do vice-almirante (um imediato é o segundo comandante de um
navio). É inventivo, pensa “fora da caixa”, descrevem várias fontes ao
Expresso. “Tem uma grande capacidade de inovar”, precisa Silva Gouveia.
“Como é suposto um submarino estar debaixo de água para ninguém o ver, uma
vez, num exercício internacional, fez superfície, pôs luzes de pesqueiro e
aumentou a velocidade para apanhar um navio de guerra e eles não
repararam.” José Conde Baguinho, vice-almirante submarinista na reforma,
comandou Gouveia e Melo enquanto jovem, e lembra-o com “uma grande
imaginação, uma capacidade imaginativa brutal”. Para ele, “não há
impossíveis e assume qualquer tarefa por difícil que pareça, enfrenta
aquilo como se tivesse a certeza que vai resolver”. Na década de 1980,
recorda Baguinho, já sabia de informática mais do que todos os outros e
quando ainda ninguém falava de internet já ele procurava informação sobre
esse futuro que havia de revolucionar as nossas vidas.

*“Parece que as coisas estão a correr muito bem e sinto orgulho em ter
colaborado nos primeiros dois meses de trabalho”, *

*diz Francisco Ramos, o primeiro coordenador da task force*

Sempre no limite, “explorou os submarinos ao máximo” e isso foi notado
pelas outras Marinhas. “Se falar com oficiais mais antigos, franceses,
espanhóis ou ingleses, todos sabem quem é o Melo”, conta Farinha Alves. “Na
NATO ele era temido”, confirma ao Expresso o almirante Luís Macieira
Fragoso, ex-chefe do Estado-Maior da Armada. “Só me apercebi disso quando
ele era meu chefe de gabinete e um dia embarcámos num porta-aviões
americano, e encontrámos um oficial francês, que nos disse: ‘Tu é que és o
Melo? Então és aquele de quem se dizia:* Beware, Melo is at sea!...’*”
(Cuidado, o Melo está no mar!). Levava a competição a sério, e se era para
haver guerra, ele dava-lhes guerra, mesmo num calhambeque desatualizado dos
anos 60: certa vez, num exercício onde estavam nove submarinos, dos 147
ataques realizados, o de Melo contabilizou 117. “Uma vez, os franceses
julgavam que nos iam dar uma lição com os submarinos nucleares e levaram
6-0. Mais tarde, foram eles a planear o exercício, criaram-nos
dificuldades, e mesmo assim ficou 3-3. Não compreendiam como eu fazia
aquilo”, recorda o próprio.

Era combativo, não se limitava a fazer um ou dois ataques aos navios de
superfície, como os comandantes dos países que operavam as plataformas mais
modernas. Com submarinos obsoletos, ter bons resultados nos exercícios
conjuntos “era uma forma de termos aceitação nos outros países da NATO
quanto à nossa capacidade submarina”, contextualiza Silva Gouveia. “Na
minha opinião, ele é o pai dos novos submarinos. Se não fosse ele, não
haveria submarinos novos nem com a qualidade que têm.” Fez parte dos grupos
de trabalho e discutia pormenores técnicos com os engenheiros dos
fabricantes e arrasava os argumentos dos concorrentes alemães ou franceses
se quisessem vender-lhe “peixe podre”.

Quando a Marinha recebeu os dois novos submarinos da classe “Tridente”,
Gouveia e Melo era o comandante da esquadrilha, mas acabou por ter de
acumular a liderança em terra com a chefia do novo navio. O oficial que
estava a preparar-se há anos para comandar e testar o novíssimo “Tridente”
teve o diagnóstico de um cancro galopante e morreu em dois meses. Terá sido
um dos momentos que mais afetou emocionalmente a esquadrilha e também o
próprio Gouveia e Melo. Na viagem para Portugal, quando foi buscar o
submarino à Alemanha, o comandante percebeu que a torre do submarino
vibrava. “Os alemães diziam que não havia problemas”, lembra. “Se continuam
com isso, vou partir-vos a torre”, ameaçou. E assim fez: com o Atlântico a
bater forte, levou a plataforma ao máximo, afinal estava em testes e o
navio dentro da garantia, e passou o Bugio em direção ao Alfeite com a
torre pendurada e o submarino aberto. “Não só o fabricante assumiu a
reparação do ‘Tridente’ como modificou o ‘Arpão’”, a unidade que viria a
seguir, e os submarinos que construíram depois. As alterações custaram
milhões de euros aos alemães.



*SEM OBSESSÃO DE MORRER VELHO*



Além de determinado, confessa-se obcecado com o que tem de fazer. Trabalha
o que tiver de trabalhar, fá-lo com prazer e sem denunciar cansaço. Isso já
teve consequências na sua saúde. Mas também espera que ninguém deseje viver
eternamente porque “ainda não houve ninguém que conseguisse provar isso”. O
problema de saúde também esteve relacionado com o stresse, uma constante na
sua carreira. A certa altura, depois de o “Barracuda” ter sofrido um
acidente grave, foi apontado para acumular o comando dos dois submarinos em
simultâneo. “Não foi fácil”, reconhece ao Expresso. Atracava de uma missão,
a sua mulher de então levava-lhe roupa lavada, tomava banho, vestia uma
roupa limpa “e ia para o mar outra vez”.

Em 2002, sofreu um choque elétrico e cinco anos depois teve de colocar um
*pacemaker* (chegou a fazer de cobaia para ver como é que o aparelho reagia
ao magnetismo da carga elétrica no submarino e mandou as conclusões para o
fabricante). Não sabe se o acidente foi a causa principal, mas assegura que
está “ rijo para as curvas”. Até diz aos camaradas que aconselha um
*pacemaker* a toda a gente. O acidente aconteceu já no final da sua
carreira nos submarinos ao cair numa operação com um helicóptero.
Normalmente, o cabo elétrico pousa na água para fazer a descarga, que não
terá sido bem sucedida, e ao agarrar o cabo apanhou um choque “fortíssimo”.
Não chegou a perder os sentidos mas ficou paralisado.

E o acidente levou-o a reequacionar algo na vida? “Não faço reavaliações de
coisas que não me resolvem nada. Não tenho a obsessão de morrer velho, de
morrer a olhar para o sol e de ver os dias a passar. Isso até me deixa
profundamente deprimido, portanto espero que me dê qualquer coisa ainda no
vigor da minha idade, é mais fácil, e que seja rápida.” Diz não se
preocupar com isso, até porque teve “uma vida tão plena, cheia de tantas
coisas”. “Quando a vida me carimbar o passaporte, vou de certeza contente.”

*“O pessoal que andava com ele estava lixado. Exigia o máximo”, *

*conta o vice-almirante Conde Baguinho, que o comandou*

A sua referência é ele próprio no dia anterior. Só se compara consigo, só
concorre consigo. É “muito autorreflexivo”, o que o ajuda a ter a
capacidade de olhar de forma crítica para si e, por vezes, até de “gozar”
com a sua posição, “como se saísse” do seu corpo e se visse de fora.
“Nenhum de nós é importante. Somos uma função num determinado momento da
história e num determinado local. As pessoas que se julgam importantes são
naturalmente parvas”, sentencia. Ainda assim, a estrutura das Forças
Armadas é muito hierarquizada, obedece a uma escala de importância. “Os
títulos têm o poder e a responsabilidade associados. Ninguém tem poder nas
Forças Armadas sem ter as responsabilidades” inerentes à função. E defende
que o poder só deve ser exercido “no estrito senso necessário para cumprir
com as responsabilidades, nunca para além dessa margem muito estrita”.

Uma das razões por que gosta de andar de camuflado é por ser prático. Mas
também por considerar que a luta contra a covid-19 é “uma guerra” e por ser
uma forma de os militares da *task force*, dos três ramos das Forças
Armadas, terem todos o mesmo uniforme. Não gosta de andar sempre com as
medalhas. Quando veste a camisa branca, de manga curta, da Marinha, usa uma
fita só com quatro condecorações. E que quatro medalhas são essas? “Nem são
as mais importantes na hierarquia das medalhas. Foram as que tiveram mais
significado por causa das pessoas que mas deram e que tenho em elevada
consideração.” Uma delas foi-lhe dada por Brites Nunes, que era o
comandante da esquadrilha de submarinos quando Gouveia e Melo saiu. Diz-se
o produto de mentores com que se foi cruzando. O vice-almirante Conde
Baguinho é outro desses exemplos: uma medalha atribuída por este tinha
“muito mais significado do que uma medalha dada pelo CEMA”.



*NEM CÃO NEM RUM*

E quando regressa a casa no fim de cada dia, o que encontra? Vive com a
segunda mulher, uma diplomata, tem dois filhos adultos que já não estão em
casa. Gouveia e Melo concede ser uma pessoa com a qual é muito difícil
conviver. “A minha mulher diz que vivo numa bolha e que afasto os outros.
Quem vive ao meu lado queixa-se muitas vezes de eu ser mais máquina do que
humano. Estou tão obcecado com a bolha que me abstraio um bocado das
relações que tenho”, reconhece. Passou a carreira num mundo à parte, o dos
submarinos, que muitas vezes se definem assim: “Há o mundo dos vivos, dos
mortos e o dos submarinistas.” Mesmo dentro da Marinha são gente diferente
dos “fragateiros”, a expressão pejorativa com que se referem aos
marinheiros de superfície. “É uma pessoa que, sendo muito profissional e
exigente, cria uma bolha em que é difícil entrar”, confirma o comandante
Paulo Vicente, um mergulhador que trabalhou de perto com a esquadrilha de
submarinos e que foi relações públicas da Marinha quando Gouveia e Melo era
chefe de gabinete do CEMA. “Se as pessoas passam a fronteira dessa bolha,
da parte profissional, entram no lado humano.” E o próprio Gouveia e Melo
reconhece que já foi mais duro, embora não se tenha tornado um “mole”.

Mas não é de esperar que se reflita nele o marinheiro rufia do rum ou que
toma o seu gin tónico ao fim da tarde para o quinino ajudar a prevenir a
malária. “Não bebe álcool”, diz o amigo Silva Gouveia. “Acho que nunca
ninguém o conseguiu pôr a beber.” Só Coca-Cola: “O encarregado da cantina
tinha de levar um carregamento só para ele.” E era dos poucos que não
cumpria uma tradição: quando um submarino imergia até à cota máxima, para
testar a estanquicidade do casco, o comandante dava ordem para se fumar um
cigarro. Ele aguentava a nuvem de fumo dos outros dentro daquele aquário,
mas também nunca fumou.

Não tem animais de estimação, mas já teve. “Neste momento, mal tenho tempo
para a minha mulher, quanto mais para animais de estimação.” Mas durante 14
anos teve uma cão de fila de São Miguel, “uma cadela muito dedicada e muito
protetora da família”. Chamava-se “Lucy”, e foi a sua primeira mulher, que
era inglesa, quem escolheu o nome. “As mulheres é que decidem tudo em
casa”, o que não mudou neste seu segundo casamento: “Ainda é assim agora,
claro.” A “Lucy” era uma cadela abandonada, usada para lutas de cães, e
“sempre demonstrou ao longo da sua vida um agradecimento eterno” por ter
sido recolhida.

Gouveia e Melo não gosta de falar de si e tenta fugir dos holofotes, o que
não tem sido fácil, tendo em conta as várias solicitações de entrevista que
recebe. “Não gosto de heróis. Incomoda-me ser importante porque importante
é o grupo. Tenho esperança de que em todos os sítios haja pessoas com o
espírito parecido com o meu e que estejam animadas a fazer as coisas.” E
diz que “este Portugal está órfão de um Sebastião, está sempre à procura de
um novo”. “É um traço psicológico do povo português. Mas o Sebastião está
dentro de nós, não temos de procurar por ele.” Que missão aceitará depois
desta?