Entrámos no mês de Dezembro e aproximamo-nos vertiginosamente do momento mais doloroso do ano para todos os que trabalham em empresas: O ALMOÇO ou o JANTAR DE NATAL
Não há pior seca que desperdiçar aquelas horas da nossa existência no mais complexo exercício de cinismo a que tal função nos obriga. Há mesmo caso de relatos de trabalhadores que entram em “delirium tremens” na véspera do famigerado almoço ou jantar e até de outros que optaram por se atirar da janela para o precipício ao soarem as badaladas da refeição.
O que é difícil de saber é aquilo que mais nos agonia. Se o sorriso idiota do chefe que ainda ontem nos deu uma rabecada só por a gente se ter atrasado a conferir as facturas do mês e que agora nos passa a mão pelo pêlo. Se o cheiro do sovaco da dona Alcinda que nos calhou em sorte, ao lado, na mesa. Se o discurso baboco do patrão Alberto, com aquelas tretas nojentas que somos todos uma grande família quando se está mesmo a ver nos olhos do gajo que o tipo se prepara para cortar a cabeça a metade da malta que ali está.
Também faz parte desta infeliz tradição misturar o maralhal todo para fingir que até somos todos iguais e que lá isso de uns ganharem dez vezes mais que os outros não tem importância nenhuma, pois o que importa é que estejam todos a contribuir para o bem comum, ou seja, para a felicidade dos tipos lá de cima, que com a distribuição dos lucros da firma sempre podem sacar umas gajas boas para dar umas voltinhas sem terem de se sujeitar ao refugo de bares de segunda ou umas viagens a Bragança.
É assim perfeitamente normal que fiquemos entalados na mesa entre o electricista da Assistência Técnica, que arrota entre cada pastel de bacalhau que abocanha, e a dona Filomena da secção de pessoal, mulher portadora de uma grande rodagem de estrada, mas que a idade fez encostar às boxes, e que se vai roçando languidamente pelas nossas pernas acima à medida que vai emborcando copos de branco.
É então que se coloca o problema de saber o que se há-de dizer àqueles seis ou sete marmanjos com quem repartimos a mesa. Contar anedotas porcas pode ser perigoso, porque nunca sabemos se o administrador que para ali está a fingir que é igual a nós não será maricas e nos limpa o sebo logo no dia a seguir. Falar de gajas e futebol equivale a sermos fulminados pelo mulherio que nos fica de trombas para o ano todo. De trabalho, nem pensar, porque isso fazia logo com que cada um começasse a puxar pelos galões e lá se ia por água abaixo a fraternidade. A única saída é mesmo a de ficar calado, com um sorriso idiota nos lábios, dizendo para o da esquerda que a sopa está melhor do que a do ano passado e para o da direita que o bacalhau está uma delícia.
A melhor safa destas coisas é mesmo arranjarmos maneira de ficar ao lado da estagiária que entrou á pouco tempo , gastarmos a refeiçao nos preliminares do paleio e partirmos a seguir para uma visita às iluminações de Natal. Com um bocado de sorte, recebemos logo naquela noite um presente caído do céu.
Não há pior seca que desperdiçar aquelas horas da nossa existência no mais complexo exercício de cinismo a que tal função nos obriga. Há mesmo caso de relatos de trabalhadores que entram em “delirium tremens” na véspera do famigerado almoço ou jantar e até de outros que optaram por se atirar da janela para o precipício ao soarem as badaladas da refeição.
O que é difícil de saber é aquilo que mais nos agonia. Se o sorriso idiota do chefe que ainda ontem nos deu uma rabecada só por a gente se ter atrasado a conferir as facturas do mês e que agora nos passa a mão pelo pêlo. Se o cheiro do sovaco da dona Alcinda que nos calhou em sorte, ao lado, na mesa. Se o discurso baboco do patrão Alberto, com aquelas tretas nojentas que somos todos uma grande família quando se está mesmo a ver nos olhos do gajo que o tipo se prepara para cortar a cabeça a metade da malta que ali está.
Também faz parte desta infeliz tradição misturar o maralhal todo para fingir que até somos todos iguais e que lá isso de uns ganharem dez vezes mais que os outros não tem importância nenhuma, pois o que importa é que estejam todos a contribuir para o bem comum, ou seja, para a felicidade dos tipos lá de cima, que com a distribuição dos lucros da firma sempre podem sacar umas gajas boas para dar umas voltinhas sem terem de se sujeitar ao refugo de bares de segunda ou umas viagens a Bragança.
É assim perfeitamente normal que fiquemos entalados na mesa entre o electricista da Assistência Técnica, que arrota entre cada pastel de bacalhau que abocanha, e a dona Filomena da secção de pessoal, mulher portadora de uma grande rodagem de estrada, mas que a idade fez encostar às boxes, e que se vai roçando languidamente pelas nossas pernas acima à medida que vai emborcando copos de branco.
É então que se coloca o problema de saber o que se há-de dizer àqueles seis ou sete marmanjos com quem repartimos a mesa. Contar anedotas porcas pode ser perigoso, porque nunca sabemos se o administrador que para ali está a fingir que é igual a nós não será maricas e nos limpa o sebo logo no dia a seguir. Falar de gajas e futebol equivale a sermos fulminados pelo mulherio que nos fica de trombas para o ano todo. De trabalho, nem pensar, porque isso fazia logo com que cada um começasse a puxar pelos galões e lá se ia por água abaixo a fraternidade. A única saída é mesmo a de ficar calado, com um sorriso idiota nos lábios, dizendo para o da esquerda que a sopa está melhor do que a do ano passado e para o da direita que o bacalhau está uma delícia.
A melhor safa destas coisas é mesmo arranjarmos maneira de ficar ao lado da estagiária que entrou á pouco tempo , gastarmos a refeiçao nos preliminares do paleio e partirmos a seguir para uma visita às iluminações de Natal. Com um bocado de sorte, recebemos logo naquela noite um presente caído do céu.
Sem comentários:
Enviar um comentário