As portas
giratórias da “máquina” socialista
História de
Joana Morais Fonseca
A sucessão de casos e das subsequentes demissões forçaram o
primeiro-ministro a fazer “mexidas” sucessivas no Executivo. No espaço de dez
meses, o XXIII Governo Constitucional – o terceiro liderado por António Costa,
mas agora com maioria absoluta – conta já com mais de uma “mão cheia” de
demissões, que já obrigaram a quatro remodelações (e está na calha mais uma
para dar posse a quem vier a ocupar a secretaria de Estado da Agricultura).
Apesar das alterações, o chefe de Governo tem escolhido vários membros ligados
à “máquina” socialista, opção que tem suscitado algumas críticas, nomeadamente
por parte da oposição.
Mas, afinal, qual o percurso dos governantes e
ex-governantes que já passaram por este Executivo?
Desde cedo que António Costa está ligado à
política, tendo-se filiado na Juventude Socialista (JS) com 14 anos. Na sua
carreira política, conta com um vasto percurso autárquico, bem como
governativo. Foi candidato à Câmara de Loures pelo PS em 1993 e presidente da
Câmara Municipal de Lisboa entre 2013 e 2015. Além disso, foi secretário de
Estado dos Assuntos Parlamentares, posteriormente, ministro dessa mesma tutela
(até outubro de 1999) e ministro da Justiça nos governos de Guterres. Foi ainda
ministro de Estado e da Administração Interna no primeiro governo de Sócrates,
é secretário-geral do PS desde finais de 2014 e este já é o terceiro Executivo
sob a sua liderança. Perante a iminência de um passar de pasta na liderança do
Largo do Rato, Costa tem procurado manter junto a si as fações dos potenciais
candidatos à liderança do PS.
Sob a sua chancela, António Costa conta com três secretários
de Estado. António Mendonça Mendes, que era até então
secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais e que foi “promovido” a
secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, na sequência da saída de
Miguel Alves. Licenciado em direito, Mendonça Mendes, é irmão da ministra Ana
Catarina Mendes e também considerado um homem do aparelho socialista, tendo
passado pela JS. Entre 1999 e 2002 foi assessor de Diogo Lacerda Machado (que
era à época secretário de Estado da Justiça e que ficou conhecido também por
ser o “melhor amigo” de Costa). Desempenhou também a função de chefe de
gabinete da secretária de Estado dos Transportes entre 2005 e 2008, liderada
por Ana Paula Vitorino, e 2009 e 2011, foi chefe de gabinete de Ana Jorge,
ministra da Saúde no segundo Governo de Sócrates.
Mendonça Mendes veio, deste modo, substituir Miguel
Alves, que se demitiu por ser acusado do crime de prevaricação pelo
Ministério Público no âmbito de um processo que nasceu da Operação
Teia. Miguel Alves foi adjunto de António Costa quando este era presidente da
CML (entre agosto de 2007 e outubro de 2009) e também enquanto este era
ministro de Estado e da Administração Interna (entre janeiro de 2006 e maio de
2007). Era presidente da Câmara Municipal de Caminha desde 2013 até ser
convidado para adjunto de Costa e foi também presidente da Federação do PS em
Viana do Castelo, cujo cargo também renunciou na sequência da investigação do
MP.
Por sua vez, Tiago Antunes, secretário de
Estado dos Assuntos Europeus, começou a carreira como advogado na PLMJ, mas
rapidamente ingressou pela carreira política. Entre março de 2005 e 2009, foi
adjunto do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro José Sócrates,
tendo posteriormente e até junho de 2011 sido “promovido” a chefe de gabinete.
Entre 2016 e 2017, foi assistente parlamentar acreditado no Parlamento Europeu,
tendo depois regressado ao Governo: no primeiro Governo de Costa foi secretário
de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e no segundo Governo foi secretário
de Estado Adjunto do primeiro-ministro.
E do gabinete do primeiro-ministro para o Ministério da
Presidência, Mariana Vieira da Silva começou como
assessora da então ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, no primeiro
Governo de José Sócrates (entre 2005 e 2009), passando depois para adjunta do
secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, função que desempenhou em
2011. Além disso, a atual ministra de Estado e da Presidência e apontada como
uma putativa candidata à liderança do PS foi ainda secretária de Estado Adjunta
do primeiro Governo liderado por António Costa, entre novembro de 2015 e
fevereiro de 2019.
No atual Governo, a filha do antigo ministro da Segurança
Social tem sob a sua tutela três secretários de Estado, dois dos quais bastante
ligados ao partido. André Moz Caldas, secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros, foi presidente da Junta de Freguesia de
Alvalade, entre 2013 e 2018 (sendo que entre 2015 e 2018 ocupou o cargo em
regime de não permanência), pelo PS, e entre 2015 e 2019 foi também chefe de
gabinete de Mário Centeno, à época ministro das Finanças.
Já Inês Ramires, secretária de Estado da
Administração Pública, iniciou-se na máquina partidária do PS como consultora
do Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros entre novembro de
2006 e agosto de 2007, passando nesse mês e até junho de 2008 para adjunta e
assessora do gabinete do secretário de Estado da Administração Pública até
junho de 2011, isto é, nos dois governos de José Sócrates. Posteriormente,
entre novembro de 2015 e outubro de 2019, foi chefe do gabinete do ministro da
Educação Tiago Brandão Rodrigues, já no primeiro Governo de António Costa. No
anterior governo foi ainda secretária de Estado da Educação, tal como revela na
sua página de LinkedIn. Com a tomada de posse do novo
Executivo, a 30 de março de 2022, Inês Ramires transitou para secretária de
Estado da Administração Pública.
No Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), João
Gomes Cravinho iniciou-se nas lides políticas como secretário de Estado
dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, nos XVII e XVIII Governos
Constitucionais, entre março de 2005 e junho de 2011. O filho do histórico
socialista Joõa Cravinho, fez uma pausa nas funções executivas para ser
embaixador da União Europeia no Brasil e na Índia. Contudo, regressou a Lisboa
em outubro 2018 para chefiar o Ministério da Defesa, sendo que transitou
posteriormente para o MNE no atual Executivo.
A par com o primeiro-ministro e com a ministra da
Presidência, o diplomata e académico tem sob a sua tutela três secretarias de
Estado, sendo que também aqui o percurso dos secretários de Estado está ligado
ao PS. Licenciado em Direito, Francisco André, secretário de Estado
dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, foi, entre 2005 e 2008, chefe do
gabinete do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros Jorge
Lacão, bem como chefe de gabinete de António Costa entre outubro de 2018 e
2020. Posteriormente, foi “promovido” a secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros e da Cooperação, função que ocupou até ao final no anterior
Governo de Costa.
Por sua vez, Paulo Cafôfo teve um percurso
um pouco diferente. O atual secretário de Estado das Comunidades Portuguesas
foi eleito presidente da Câmara Municipal do Funchal em setembro de 2013, tendo
concorrido como cabeça de lista independente pela coligação Mudança. Nas
eleições seguintes, Cafôfo foi reeleito para a Câmara do Funchal pela coligação
Confiança e, desta vez, indicado pelo PS. Em junho de 2019, o então autarca
renunciou ao mandato para ser o candidato indicado pelos socialistas à
presidência do Governo Regional da Madeira, mas perdeu as eleições. Foi ainda
deputado da Assembleia Legislativa da Madeira e é atualmente Presidente do PS
da Madeira.
Outro dos exemplos flagrantes diz respeito a José
Luís Carneiro. O ministro da Administração Interna conta no seu
currículo com vários cargos ligados ao PS, tendo sido, por exemplo, chefe de
gabinete do grupo parlamentar do PS, presidente da Federação Distrital do Porto
do PS, presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas e
secretário-geral adjunto do PS, entre outros. Também a secretária de Estado da
Administração Interna Isabel Oneto integra há vários anos
funções ligadas ao PS, tendo sido eleita deputada em quatro legislaturas pelo
círculo do Porto, bem como vereadora Câmara Municipal do Porto.
Nas Finanças, Fernando Medina tem um longo
percurso ligado ao PS. Foi assessor para a Educação e assessor para os Assuntos
Económicos do Governo de António Guterres, secretário de Estado do Emprego e
Formação Profissional no Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social no
primeiro Governo de Sócrates e, posteriormente, secretário de Estado da
Indústria e do Desenvolvimento no Ministério da Economia. Foi também presidente
da CML, vice-presidente do grupo parlamentar do PS e é atualmente apontado como
uns dos eventuais sucessores de Costa à liderança do partido.
No gabinete de Fernando Medina, Nuno Félix —
ex-subdiretor da Autoridade Tributária e que ficou na pasta ocupada por António Mendonça Mendes
como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais — iniciou a sua atividade profissional na
advocacia, em outubro de 2008, sendo que dois anos depois ingressou na carreira
diplomática, tendo trabalhado para o Ministério de Estrangeiros até agosto de
2013. Foi ainda adjunto, com funções de substituição, do chefe do gabinete, no
gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais entre 2015 e 2017 e
posteriormente chefe de gabinete de António Mendonça Mendes.
A par de Mariana Vieira da Silva e de Fernando Medina
também Ana Catarina Mendes é apontada como “delfim” de Costa.
Ao contrário deste dois, a atual ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares
só agora assume funções executivas, tendo dado a “cara” pelo partido durante
vários anos na Assembleia da República e sido inclusivamente presidente do
grupo parlamentar do partido. No seu gabinete, a ministra conta com João
Paulo Correia. O atual secretário de Estado da Juventude e do Desporto
foi assessor e chefe de gabinete de Ana Paula Vitorino (na época secretária de
Estado dos Transportes), deputado na Assembleia da República, adjunto do
presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e vice-presidente do grupo
parlamentar do PS.
Também o ministro da Saúde Manuel Pizarro —
que substituiu Marta Temido, que se demitiu a 30 de agosto —
tem uma longa carreira política, tendo sido secretário de Estado da Saúde entre
2008 e 2009 e secretário de Estado Adjunto e da Saúde nos dois anos seguintes.
Licenciado em medicina e com especialidade em medicina interna, foi ainda
presidente da distrital do PS do Porto, chegou a ser candidato à Câmara
Municipal do Porto e foi também eurodeputado.
E da Saúde para o Ambiente, Duarte Cordeiro iniciou-se
no círculo socialista da Juventude Socialista (JS), tendo chegado a
secretário-geral da JS. Foi durante vários anos deputado no Parlamento,
vice-presidente da CML quando Fernando Medina liderava a autarquia. Mas foi nos
governos de Costa que ganhou relevo, tendo sido secretário de Estado Adjunto do
primeiro-ministro e dos Assuntos Parlamentares no primeiro Governo de Costa,
passou a secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no segundo Governo de
Costa e atualmente é ministro do Ambiente e da Ação Climática.
Ainda pelo Ministério do Ambiente e tal como Duarte
Cordeiro, Hugo Polido Pires deu os primeiros passos na
política na JS, tendo sido presidente da distrital de Braga, tal como escreveu
o Público. O atual secretário de Estado do Ambiente é
deputado na Assembleia da República, tem exercido as funções de vice-presidente
da bancada desde 2019 com as áreas do ambiente e energia, foi co-autor da Lei
de Bases do Clima e coordenador do grupo de trabalho que criou a Lei de Bases
da Habitação. Teve ainda uma passagem pela Câmara Municipal de Braga.
Também Pedro Nuno Santos conta com um vasto
percurso no PS. Tal como Costa e Duarte Cordeiro, fez parte da JS e foi
secretário-geral deste organismo 2004 e 2008. No período de liderança de
António José Seguro, entre 2011 e 2014, fez parte do chamado grupo dos
“jovens turcos”, juntamente com João Galamba, Pedro Delgado
Alves e Duarte Cordeiro. Ocupou ainda funções como presidente da Federação
de Aveiro do PS, deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PS. Mas foi
no primeiro Governo de António Costa que se destacou, tendo sido um dos
principais impulsionares da “geringonça” quando era secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares. Posteriormente foi “promovido” a ministro das
Infraestruturas e da Habitação, função que desempenhou até se demitir na sequência da polémica em torno da indemnização de
500 mil euros paga pela TAP a Alexandra Reis.
Na sequência deste caso também Hugo Mendes se
demitiu, já que tinha dado o seu aval ao acordo, uma vez que “não viu
incompatibilidades” na solução encontrada. O antigo secretário de Estado das
Infraestruturas estava há vários anos ao lado de Pedro Nuno Santos (não só
neste Ministério, mas também na secretaria de Assuntos Parlamentares) e também
conta com uma vasta carreira ligado ao PS. Foi assessor da ministra da Educação
Maria de Lurdes Rodrigues, entre 2006 e 2009, transitando posteriormente para
adjunto do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, José Almeida
Ribeiro, entre 2009 e 2011. Além disso, foi também assessor do grupo
parlamentar do PS, na Assembleia da República, e em especial na Comissão de
Orçamento, Finanças e Administração Pública. Foi também secretário de Estado
Adjunto e das Comunicações no segundo Governo de Costa.
Com a saída de Pedro Nuno Santos, o Ministério das
Infraestruturas e da Habitação dividiu-se em dois. Para tutelar as
Infraestruturas, o primeiro-ministro escolheu João Galamba.
Pertencente à ala mais à esquerda do PS, o novo governante chegou ao Parlamento
em 2009 permanecendo no hemiciclo nos dez anos seguintes, tendo sido
coordenador dos deputados do PS na comissão de Orçamento e Finanças e
vice-presidente do grupo parlamentar socialista. Neste governo, antes da
demissão de Pedro Nuno Santos era secretário de Estado Adjunto e da Energia.
Frederico Francisco, novo secretário de Estado
das Infraestruturas, pode também ser considerado como um “delfim” do ex-ministro das
Infraestruturas, dado que acompanhava ou representava Pedro Nuno Santos em
todas as iniciativas ligadas à ferrovia nos últimos anos. O físico com mestrado
em engenheira aeroespacial estava na esfera na tutela do ex-ministro desde
novembro de 2019, quando foi nomeado técnico especialista do seu gabinete. Em
paralelo, era professor auxiliar convidado na Faculdade de Ciência da
Universidade do Porto.
Também Marina Gonçalves tem uma carreira
política ligada a Pedro Nuno Santos. A nova ministra da Habitação começou a sua
carreira na área da advocacia, mas em 2015 entrou no Governo como assessora do
gabinete de Pedro Nuno Santos (quando este era secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares), sendo que nessa altura foi também assessora do grupo
parlamentar socialista (e anos mais tarde chegou a vice-presidente).
Posteriormente, entre março de 2018 e outubro de 2019, foi “promovida” a chefe
de gabinete de Pedro Nuno Santos (quer quando este estava nos Assuntos
Parlamentares como quando transitou para ministro das Infraestruturas e da
Habitação). Já neste novo Governo era secretária de Estado da Habitação.
Já Teresa Coelho, secretária de Estado das
Pescas, começou o seu percurso político como adjunta e chefe de gabinete do
secretário de Estado das Pescas José Apolinário (de 1996 a 2002), foi adjunta
do secretário de Estado da Administração Interna e da Proteção Civil (entre
2005 e 2008) e adjunta e chefe de gabinete do secretário de Estado do
Desenvolvimento Rural e das Florestas no ano seguinte. Posteriormente e até
voltar ao Governo desempenhou funções executivas em vários organismos ligados
ao setor das Pescas.
Por sua vez, Carlos Miguel, secretário de
Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, foi entre 2004 e
2015 vereador e presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, sendo que
posteriormente transitou para o Governo. No primeiro Governo liderado por Costa
foi secretário de Estado das Autarquias Locais e no segundo governo passou para
secretário de Estado Adjunto e do Desenvolvimento Regional.
As “zonas cinzentas”
Por outro lado, há alguns governantes, que, apesar de terem
algum percurso político ligado ao PS têm uma longa carreira fora das lides
políticas. É o caso de Bernardo Ivo Cruz, secretário de Estado
da Internacionalização, que conta com 30 anos experiência em diversos setores,
“incluindo nos serviços financeiros, Governo, setor público, empresas privadas,
ensino superior, ONGs ou Organizações Internacionais, segundo descreve o
próprio no LinkedIn.
Tal como Gomes Cravinho fez parte do Ministério dos Negócios
Estrangeiros no primeiro Governo liderado por José Sócrates como chefe de
gabinete do então ministro Freitas do Amaral, tendo posteriormente subido a
subsecretário de Estado adjunto do mesmo ministério durante mais sete meses.
Além disso, entre setembro de 2020 e agosto de 2021 foi conselheiro da
Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia, quando Portugal
tinha a Presidência do Conselho.
Outra “zona cinzenta” diz respeito a Marco Capitão
Ferreira, atual secretário de Estado da Defesa, que foi adjunto do Ministro
da Defesa Nacional entre 2006 e 2011, mas tem um vasto currículo ligado ao
setor, tendo sido, por exemplo, investigador do Instituto de Defesa Nacional,
Presidente do Conselho de Administração da Naval Rocha e, mais recentemente,
Presidente da Comissão Liquidatária da Empordef, SGPS e da ETI, S.A.
Por sua vez, Jorge Alves Costa, atual secretário
de Estado Adjunto da Justiça, iniciou-se na política em 1996 como funções de
adjunto do secretário da Estado da Justiça e foi ainda chefe de gabinete do
Ministro da Justiça, em 1999, sendo que mais recentemente (entre 2015 e 2017)
foi chefe de gabinete da ministra Constança Urbano de Sousa. Ainda assim, conta
com uma carreira na Justiça, tendo sido membro do Conselho Superior do
Ministério Público (MP), assessor no gabinete do MP no Tribunal Constitucional,
etc.
Já João Nuno Mendes, atualmente o número dois
nas Finanças, foi assessor económico do gabinete de António Guterres, entre
1996 e 1999, passou para secretário de Estado do Planeamento no Governo
seguinte, sendo que posteriormente passou pelo setor empresarial (Grupo Amorim
e Águas de Portugal). Integrou ainda o anterior executivo como secretário de
Estado das Finanças.
Por sua vez, Pedro Sousa Rodrigues — atual secretário de
Estado do Tesouro e que veio substitui Alexandra Reis, que se demitiu
na sequência do caso TAP — estava há dez meses na Agência para o Investimento e
Comércio Externo de Portugal (AICEP), antes de integrar este Executivo. Com uma
carreira profissional feita maioritariamente no setor público, o atual
secretário de Estado foi, durante cinco anos, adjunto secretário de Estado da
Internacionalização — primeiro de Eurico Brilhante Dias e, mais recentemente,
de Bernardo Ivo Cruz.
E das Finanças para a Economia, outra “zona cinzenta” diz
respeito a João Neves, antigo secretário de Estado Adjunto e
da Economia que foi afastado por divergências internas com Costa Silva.
Apesar de uma longa carreira fora do Governo, chegou a ser chefe do gabinete do
secretário de Estado da Indústria e, seguidamente, do Ministro da Economia de
1995 a 1997, diretor regional de Lisboa e Vale do Tejo do Ministério da
Economia e chefe do gabinete do Ministro da Economia e da Inovação entre 2005 e
2007.
Já Ana Mendes Godinho iniciou a carreira
consultora jurídica e inspetora do IDICT, tendo depois sido chefe do gabinete
de Bernardo Trindade, quando este era secretário de Estado do Turismo.
Trabalhou ainda para o Turismo de Portugal mas, em 2015, voltou para o Governo,
desta vez como secretária de Estado do Turismo e em outubro de 2019 foi
“promovida” a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, onde se
mantém atualmente.
Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, foi,
durante dois anos, adjunto no gabinete do primeiro-ministro António Guterres
com funções de assessoria social e, posteriormente, secretário de Estado da
Juventude também nos governos de Guterres. Depois disso, dedicou-se ao setor
empresarial, tendo passado pela MRB Holding S.G.P.S, AICEP ou Santa Casa da
Misericórdia. Por sua vez, Gabriel Bastos, prestou assessoria gabinetes
ministeriais no âmbito da Segurança Social e do Equipamento Social, tendo
assumido as funções de chefe do gabinete do ministro do Trabalho e da
Solidariedade Social, entre 2005 e 2007, no primeiro Governo de Sócrates, mas
fez grande parte da carreira no Instituto da Segurança Social.
Percurso semelhante teve Ana Fontoura Gouveia,
que na última remodelação foi “promovida” a secretária de Estado da Energia e do Clima. A
economista e professora assistente de Finanças Públicas da Nova SBE passou por
instituições de relevo até chegar ao Governo, nomeadamente pelo Banco Central
Europeu (BCE) e pelo Banco de Portugal (BdP). Não obstante, em 2015 trabalhou
no gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e também exerceu
funções no GPEARI do Ministério das Finanças, até 2018. Posteriormente
regressou ao BdP, e, em 2019, voltou ao Governo para ser assessora económica de
António Costa, função que desempenhou até à passada quarta-feira.
Já João Paulo Catarino, atual secretário de
Estado da Conservação da Natureza e Florestas, foi de abril a outubro de 2005
adjunto do secretário de Estado do Desenvolvimento Rural das Florestas e,
posteriormente, presidente da Câmara de Proença-a-Nova pelo PS, mas no seu
currículo conta ainda com passagens em entidades como o Instituto de
Conservação da Natureza ou na Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa.
Por sua vez, Jorge Delgado, atual secretário de
Estado da Mobilidade Urbana, até chegar ao Governo (foi secretário de Estado das
Infraestruturas no primeiro e segundo Executivos de Costa) desempenhou funções
em empresas públicas, tendo sido presidente do Conselho de Administração da
STCP entre janeiro de 2016 e janeiro de 2018 e, posteriormente CEO e chairman do
Metro do Porto, segundo consta na sua página de LinkedIn.
E do Ministério do Ambiente para a Agricultura, Maria
do Céu Antunes foi presidente da Câmara Municipal de Abrantes durante
nove anos, presidiu ao Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do
Médio Tejo, integrou Conselho Económico e Social e o Conselho das Comunidades e
Regiões da Europa na Comissão Permanente para a Igualdade das Mulheres e dos
Homens na Vida Local. Antes de ser ministra da Agricultura era, desde fevereiro
de 2019, secretária e Estado do Desenvolvimento Regional.
Já Carla Alves – que foi escolhida para substituir Rui Martinho como secretário de Estado da
Agricultura, mas que já se demitiu – exerceu funções em empresas
públicas e esteve na direção Parque Biológico de Vinhais. Num percurso marcado
por passagens em organizações e empresas do setor, desde 2000 estava no quadro
técnico da Câmara Municipal de Vinhais, sendo, que entre 2005 e 2007, o presidente desta autarquia foi o seu
marido, Américo Pereira, entretanto constituído arguido, estando acusado dos
crimes de prevaricação, participação económica em negócio e de corrupção ativa.
De Costa Silva a Elvira Fortunato, os “fora da caixa”
Há ainda casos de atuais membros do Executivo que são
independentes ou, apesar de serem militantes do PS, tiveram sempre uma carreira
fora das hostes partidárias e apenas recentemente assumiram funções executivas.
É o caso de Catarina Sarmento e Castro, atual ministra da Justiça.
Filha do histórico socialista Osvaldo Castro, a jurista foi secretária de
Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes do Ministério da Defesa no
anterior Governo, mas conta com o vasto currículo ligado ao setor da Justiça, tendo
sido juíza no Tribunal Constitucional, membro do Conselho Consultivo da PGR ou
vogal da Comissão Nacional de Proteção de Dados, apesar de todos estes cargos
serem de eleição parlamentar, tal como constatou o Público.
À semelhança da ministra da Justiça também António
Costa Silva é independente. O atual ministro da Economia e do Mar ficou conhecido por “pai do PRR” por ter sido
escolhido para desenhar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Com uma
longa carreira no setor privado, nomeadamente no setor petrolífero (era CEO da
Partex), só neste Governo assumiu funções executivas. Também Rita
Marques, ex-secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, era
independente quando entrou no Governo, sendo que à semelhança de João Neves foi
afastada por divergências com Costa Silva. Agora está envolta em polémica por ir exercer funções
de administradora na The Fladgate Partnership, uma empresa à qual
concedeu benefícios quando era governante.
Por sua vez, o secretário de Estado da Economia Pedro Cilínio, conta
com anos de experiência no IAPMEI no apoio às empresas, enquanto Nuno Fazenda,
secretário de Estado do Turismo, é deputado do PS desde 2019, mas antes foi
assessor de Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo do Governo
de coligação PSD/CDS.
Por outro lado, Pedro Adão e Silva, antes
de assumir a pasta da Cultura, tinha sido escolhido pelo Governo de António
Costa para liderar as comemorações dos 50 anos do 25.º de abril, no entanto,
até então não tinha assumido funções executivas.
Outro dos casos de governantes independentes é o de Elvira
Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que
conta com um longo percurso académico e tendo recebido vários prémios na área
de investigação, nomeadamente por ter inventado o transístor de papel.
Já Ana Abrunhosa até entrar para o Governo
era presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Centro
(CCDR-C), tendo sido responsável pela gestão da reconstrução das casas dos
incêndios de 2017. A ministra da Coesão Territorial tem feito carreira na área
dos fundos europeus e foi deputada municipal como independente em Meda, na
lista do PSD.
Por outro lado, o ministro da Saúde Manuel Pizarro
optou por escolher para seus secretários de Estado especialistas que não
tinham até então funções governativas. Ricardo Mestre, secretário de
Estado da Saúde tinha sido nomeado no final de junho do ano passado para o
cargo de subdiretor-geral da Direção-Geral da Saúde, em regime de comissão de
serviço, tendo ocupado outras funções ligadas ao setor.
Ao mesmo tempo, Margarida Tavares, secretária de Estado da
Promoção da Saúde, era assistente graduada de infecciologia do Serviço de
Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João e
Coordenadora da Unidade de Doenças Infecciosas Emergentes do mesmo centro. Os
dois secretários de Estado vieram substituir António Lacerda Sales (que ganhou
relevância política quando entrou no Governo e chegou a ser apontado como
possível substituto de Marta Temido) e Maria de Fátima Fonseca, que deixaram as
respetivas funções governativas, na sequência da saída Temido.
Na Proteção Civil, Patrícia Gaspar, atual
secretária de Estado da Proteção Civil, apesar de ser militante do PS e de ter
sido secretária de Estado da Administração Interna no anterior Governo de
Costa, tem uma longa carreira na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção
Civil (ANEPC).
Outro exemplo é o de Maria Fernanda Rodrigues, nova secretária de
Estado da Habitação, que conta com um extenso currículo na área da
Engenharia Civil e nunca esteve ligada à política
A LIBERDADE QUE O 25 DE ABRIL DEU A ESTA GENTALHA SEM ESCRUPULOS,
POLITICOS DE UMA PROFISSÃO QUE NÃO EXISTE. UMA VERGONHA E UMA TRAIÇÃO AO PAÍS
QUE DIZEM DEFENDER NA ASSEMBLEIA DA RÉPUBLICA.
FIM
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